O resultado melhor que o esperado para o emprego com carteira assinada em setembro afastou a ideia de uma desaceleração mais forte do mercado de trabalho e enfraqueceu as chances de um corte da taxa de juros no início de 2026, segundo especialistas.
No mês passado, houve a criação líquida de 213 mil vagas formais no País, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O resultado ficou acima da estimativa mediana das coletas do Valor Data: 172,5 mil vagas. As projeções, todas positivas, iam de 136 mil a 220 mil.
O saldo agora foi pior do que o de setembro do ano passado, quando houve a abertura de 252,3 mil vagas.
Os cinco setores da economia tiveram abertura líquida: serviços (106.606); agropecuária, produção florestal, pesca e aquicultura (3.167); indústria geral (43.095); construção (23.855); comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (36.280).
O dado de setembro afasta a ideia de uma desaceleração mais forte do mercado de trabalho, diz o economista da 4intelligence Bruno Imaizumi. Com ajuste sazonal, o saldo líquido de vagas criadas passou de 42,5 mil em agosto para 101 mil em setembro.
“É um resultado que coloca a média para o período antes de agosto. Não dispara revisão da projeção de 1,4 milhão de vagas para 2025, só indica que a desaceleração vai ocorrer de maneira mais lenta que alguns imaginavam”, afirma.
Imaizumi pondera que o fato de que setembro tem registrado mais dias úteis que a média nos últimos cinco anos também pode estar ajudando a impulsionar os dados de empregos no mês.
Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV), Rodolho Tobler pondera que o dado de setembro não significa uma reversão da tendência de desaceleração do mercado de trabalho.
A variação do estoque de ocupados com carteira segue desacelerando na variação interanual. Em fevereiro, o indicador chegou a apontar alta de 3,9%. Em agosto, caiu a 3%, número que chegou a 2,9% em setembro.
“Se o resultado viesse mais perto das expectativas, seria uma desaceleração maior”, diz. “Mostra que o mercado de trabalho tem sido mais resiliente que se esperava, muito em linha com o pouso suave pelo qual a economia passa.”
A XP Investimentos, por sua vez, destaca que as admissões cresceram 3,7% na variação mensal e 4,9% ante setembro de 2024. Já as demissões aumentaram 0,3% no mês e 7,6% no ano. “Ambos os indicadores seguem em níveis historicamente elevados, o que reforça o cenário de mercado de trabalho aquecido”, diz a corretora em relatório.
Para fins de política monetária, o Caged deve tirar força de um corte da Selic já em janeiro, afirma Imaizumi, da 4intelligence. Segundo ele, havia certa expectativa entre participantes de mercado de que o Caged de setembro ajudasse a confirmar uma desaceleração mais forte da economia – algo que parecia apoiado nas leituras mais benignas que o esperado do IPCA-15 e do IGP-M de outubro.
“Os salários de admissão e demissão seguem rodando bem em linha na variação interanual com inflação de serviços. Não é à toa que o BC está preocupado, e não vejo a inflação do setor rodar dentro da banda da meta nem em 2026”, diz. A 4intelligence espera que o início do corte de juros comece em março. As informações são do jornal Valor Econômico.
