O ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, disse a procuradores de Justiça do Peru que a empreiteira, acusada de vários escândalos de corrupção, contratou como consultor, no início da década passada, o então ministro e atual presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski. A informação é de jornais locais.
Condenado a 19 anos por corrupção, o executivo foi interrogado nesta semana por procuradores peruanos em Curitiba (PR), no âmbito de uma investigação das autoridades de Lima sobre supostos aportes de dinheiro de sua empresa para a campanha da ex-candidata presidencial Keiko Fujimori em 2011.
De acordo com o jornal “El Comercio”, o delator explicou que quando o atual presidente foi o titular da pasta da Economia durante o governo do ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) era “uma pedra no sapato para os interesses da companhia”, por suas objeções à construção da estrada que une Peru e Brasil.
Segundo a reportagem, Marcelo sinalizou que após o fim do mandato de Toledo e “quando Kuczynski já não exercia nenhum cargo público”, a empresa contratou seus serviços como consultor. Isso, segundo a versão do ex-empreiteiro, “para curar feridas”.
O jornal “La República” acrescentou, citando uma fonte com conhecimento sobre as declarações da Odebrecht, que o executivo disse que Kuczynski assessorou a construtora.
Uma porta-voz do governo disse à Reuters que o presidente Kuczynski “aguardará a versão oficial” do interrogatório a Odebrecht. Uma representante da procuradoria disse que não faria comentários, uma vez que se trata de um tema sigiloso.
Kuczynski, que foi empossado em julho do ano passado, para um mandato de cinco anos, rejeitou no passado qualquer vínculo profissional com a construtora Odebrecht, no âmbito de uma investigação realizada pelo Congresso, controlado pela oposição.
O advogado de Keiko Fujimori, que esteve presente no interrogatório de Odebrecht não quis comentar as reportagens. “O que devo fazer é respeitar o sigilo até que a procuradoria emita seu pronunciamento ao nosso pedido de levantamento do sigilo”, disse o advogado Edward García.
Propinas internacionais
Na semana passada, investigações em Andorra apontam que a Odebrecht pagou 200 milhões de dólares de propina a políticos, funcionários, empresários e laranjas de oito países. As informações foram divulgadas pelo jornal espanhol “El País”.
No final de setembro, o jornal “O Estado de S.Paulo” revelou, com base em documentos confidenciais do inquérito, que a empreiteira apresentava políticos a bancos em Andorra, com o objetivo que abrissem contas que seriam usadas para receber propina.
De acordo com o jornal espanhol, os recursos foram depositados no banco BPA de Andorra – junto com Meinl Bank de Antígua e Barbuda, foi o banco internacional mais utilizado por Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira, hoje preso em Curitiba.
O esquema consistia no uso das off-shores Aeon Group e Klienfeld Services Limited pela Odebrecht para realizar os pagamentos e nos funcionários do BPA criando sociedades no Panamá para ocultar os verdadeiros titulares das contas. Os investigadores identificaram mais de US$ 200 milhões de pagamentos feitos somente por meio de Klienfeld.
Os documentos aos quais o “El País” teve acesso mostram que políticos, advogados, funcionários e membros do alto escalão do Equador, Peru, Panamá, Chile, Uruguai, Colômbia, Brasil e Argentina abriram contas no BPA. Contas de 145 clientes foram investigadas pelas autoridades andorranas.
Segundo fontes ouvidas pelo jornal espanhol, a Odebrecht transferiu a estes depósitos subornos milionários que mascarou como serviços que nunca prestou. O escândalo da Odebrecht revelou subornos em 12 países da América Latina e da África, incluindo o Brasil, no valor de US$ 788 milhões, segundo documentos divulgados em dezembro do ano passado pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.
