Ícone do site Jornal O Sul

ONU alerta para risco de morte de 14 mil bebês em Gaza, enquanto Israel autoriza entrada de 100 caminhões de ajuda

Crianças palestinas escalam escombros após ataques aéreos em 18 de março. (Foto: Unfpa/Media Clinic)

O subsecretário-geral para Assistência Humanitária da ONU (Organização das Nações Unidas), Tom Fletcher, afirmou nessa terça-feira (20) que 14 mil bebês podem morrer nas próximas 48 horas na Faixa de Gaza se carregamentos de ajuda humanitária não chegarem rapidamente à população civil. A declaração foi feita em um momento em que Israel intensificou seus ataques contra o território palestino enquanto, em meio à pressão externa, levantou parcialmente o bloqueio à entrega de ajuda humanitária ao território.

Nesta terça-feira, um dia após cinco caminhões terem entrado, o governo israelense autorizou a passagem de outros 100 veículos com insumos básicos, afirmando posteriormente que 93 deles atravessaram a passagem de Kerem Shalom. O número, porém, ainda é muito aquém dos 300 estimados pela ONU como ideais para atender às necessidades mínimas da população de 2,2 milhões de pessoas do território. Além disso, com uma operação logística complexa, nenhuma ajuda que chegou pôde ser distribuída nessa terça-feira, informou a ONU.

“Deixe-me descrever o que tem nesses caminhões: é comida para bebês. Nutrição para bebês. Existem 14 mil bebês que vão morrer nas próximas 48 horas se não conseguirmos alcançá-los. Isso não é comida que o Hamas vá roubar”, afirmou Fletcher em entrevista à Rádio 4 da BBC, em referência à acusação de Israel de que o grupo terrorista desvia ajuda. “Quero salvar o máximo possível desses 14 mil bebês nas próximas 48 horas.”

Questionado sobre como a ONU chegou a esse número, Fletcher respondeu que, embora muitos dos funcionários tenham sido mortos ao longo da guerra, a organização ainda conta com “muitas pessoas no terreno”.

“Elas estão nos centros médicos, elas estão nas escolas… tentando avaliar as necessidades”, afirmou.

O cenário desolador descrito por Fletcher ocorre após mais de dois meses de bloqueio total imposto por Israel ao envio de ajuda humanitária ao enclave, após o colapso em 2 de março do acordo de cessar-fogo negociado no começo do ano para troca de reféns por prisioneiros. Desde então, organizações internacionais que atuam na região chamam a atenção para o risco de escassez de água, comida, combustível e medicamentos.

O bloqueio total foi rompido na segunda-feira, quando o governo israelense autorizou a entrada de nove caminhões com carregamento de alimentos. O Escritório da ONU para Assuntos Humanitários informou nessa terça, no entanto, que apenas cinco efetivamente entraram no enclave por “questões logísticas”. Após Israel informar que outros 93 entraram nessa terça-feira, o porta-voz da ONU Stéphane Dujarric disse que nenhuma ajuda chegou ainda aos depósitos e pontos de distribuição da organização.

“As autoridades israelenses estão exigindo que descarreguemos os caminhões no lado palestino da passagem de Kerem Shalom para recarregá-los separadamente quando garantirem o acesso de nossas equipes de dentro da Faixa de Gaza”, explicou. “Só então somos capazes de levar quaisquer suprimentos para onde as pessoas necessitadas estão abrigadas.”

O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, justificou na segunda-feira que a autorização dada pelo governo para o fim do bloqueio total foi motivado por “razões práticas e diplomáticas”, afirmando que “amigos” de Israel não admitiriam ver cenas de fome em massa em Gaza. No mesmo anúncio em vídeo, o premier afirmou que as operações militares seriam mantidas e que iria tomar o controle do território – o Exército já havia dito no dia anterior que os ataques seriam intensificados.

O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, que na segunda-feira assinou uma declaração conjunta com o presidente da França, Emmanuel Macron, e o premier do Canadá, Mark Carney, apontando como “desproporcional” a ofensiva militar israelense e ameaçando com “medidas concretas” em caso de negativa à entrada de ajuda humanitária, voltou a condenar as ações israelenses nesta terça durante uma ida ao Parlamento britânico.

“Estamos horrorizados com a escalada de Israel. Reiteramos nossa exigência de um cessar-fogo como única forma de libertar os reféns […]. Reiteramos nossa oposição aos assentamentos na Cisjordânia e reiteramos nossa exigência de aumento massivo da assistência humanitária a Gaza”, afirmou Starmer, que posteriormente acrescentou: “O recente anúncio de que Israel permitirá a entrada de uma quantidade básica de alimentos em Gaza, uma quantidade básica, é total e completamente inadequado, portanto, precisamos coordenar nossa resposta, pois esta guerra já dura tempo demais. Não podemos permitir que o povo de Gaza morra de fome.” As informações são do jornal O Globo e de agências internacionais de notícias.

Sair da versão mobile