A declaração e o texto final feitos pela Organização das Nações Unidas (ONU) durante a Assembleia Geral da ONU sobre a nova Declaração Política sobre Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), falham ao não reconhecer obesidade como doença, segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e World Obesity Federation (WOF).
As entidades médicas afirmam que o documento também não aborda o acesso a tratamentos e deixa de incluir ferramentas já recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como o Acceleration Plan, plano global lançado em 2022 que orienta países a reconhecer a obesidade como doença, integrar sua prevenção e tratamento à atenção primária e implementar políticas de alimentação saudável, tributação de ultraprocessados e ampliação do acesso a terapias eficazes.
Para a Abeso, reconhecer a obesidade como doença crônica e garantir o acesso a terapias eficazes, incluindo medicamentos inovadores como os agonistas de GLP-1, é essencial para conter o avanço das doenças crônicas não transmissíveis. Além disso, é necessário integrar prevenção e tratamento da obesidade à atenção primária em saúde e assegurar que as pessoas com experiência de vida com a doença participem da formulação das políticas públicas.
Na perspectiva do presidente da Abeso, Fábio Trujilho, é preciso que os líderes globais tenham clareza sobre a gravidade do cenário e ajam de forma integrada.
“A obesidade não pode mais ser ignorada como um dos maiores desafios de saúde pública do nosso tempo. É necessário que governos assumam compromissos claros, baseados em ciência, para reduzir o impacto da doença e garantir políticas de prevenção e tratamento efetivas”, afirma, em comunicado.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), obesidade pode levar ao aumento do risco de diabetes tipo 2 e doenças cardíacas, além de afetar a saúde óssea e a reprodução humana. Mais de 1 bilhão de pessoas vivem com a condição no mundo, número que deve alcançar quase metade da população até 2035. A estimativa é que, se nada for feito, o impacto econômico da obesidade chegue a 3% do PIB mundial até 2030.
No Brasil, é estimado que 68% da população adulta tenha sobrepeso (IMC ≥25) e 31% viva com obesidade, de acordo com os dados mais recentes do Atlas Mundial da Obesidade 2025.
Bruno Halpern, vice-presidente da Abeso e presidente eleito da World Obesity Federation (WOF), alerta que, ao não reconhecer a obesidade como doença crônica, a ONU reduz a relevância do tema e ele perde espaço nas agendas políticas e de saúde pública.
“Se não reconhecemos o problema, não teremos solução. O documento da ONU não reconhecerá a obesidade como doença e a deixará fora da discussão. E se nós não reconhecemos o problema, não teremos como trabalhar na solução”, aponta.
(Com informações do O Globo)