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Os delatores da Odebrecht pediram para não serem filmados durante as audiências. O Ministério Público e a Justiça Federal têm concordado com as solicitações

Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez, por exemplo, fizeram a leniência e combinaram pagar cerca de R$ 8,6 bilhões para poder continuar fazendo contratos com o governo. (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Depois de todo o rumor causado pela megadelação que envolveu 77 executivos, com divulgação dos vídeos dos depoimentos que se constituem em verdadeiros roteiros da corrupção institucionalizada no País e fora dele, delatores da Odebrecht decidiram esconder o rosto. Em audiências na Justiça Federal, colaboradores da empreiteira vêm pedindo para as câmeras não captarem suas imagens.

Esse tipo de etapa de um processo penal é filmado. Pelo menos em Brasília (DF), o MPF (Ministério Público Federal) e a Justiça Federal têm concordado com os pedidos das defesas dos delatores.

Em audiência nesta segunda-feira (18), em um processo que investiga pagamento de propina da Odebrecht a André Luiz de Souza, ex-integrante do conselho do FI-FGTS (Fundo de Investimentos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), dois delatores e uma terceira testemunha pediram para que seus rostos fossem mantidos fora do foco das câmeras da Justiça Federal. A audiência foi por videoconferência, uma vez que os colaboradores vivem fora de Brasília.

O ex-chefe do setor de propina da Odebrecht Hilberto Mascarenhas e o ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Júnior pediram para esconder o rosto. O MPF e o juiz que conduz o processo e as audiências, Vallisney de Souza Oliveira, concordaram com os pedidos.

Vídeos com os depoimentos dos dois em suas respectivas colaborações premiadas já foram tornados públicos. Agora, eles se ancoram na lei de organização criminosa, que prevê o instituto da delação premiada, para se manterem no anonimato.

Primeiro, a câmera foca nos rostos dos delatores, para se comprovar que eles são os autores dos testemunhos dados na audiência. Depois, o juiz determina que o foco seja deslocado, de forma a preservar o rosto dos colaboradores. Eles dizem estar, agora, aposentados e afastados das funções na Odebrecht.

Outra testemunha na audiência nesta segunda-feira, Rogério Ibrahim, também pediu para não aparecer nas imagens e foi atendido. Ele não é delator, mas alegou estar em processo de adesão a um acordo de leniência. A leniência é voltada a pessoas jurídicas e pode ter efeitos penais para pessoas físicas.

“Os colaboradores menos conhecidos vêm manifestando a vontade de não serem filmados. Eles têm filhos nas escolas, frequentam clubes e querem o anonimato. A lei dá amparo neste sentido. Isto vem ocorrendo inclusive nas novas delações assinadas”, diz uma fonte familiarizada com este tipo de processo.

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