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Os Estados Unidos avançam no uso de drones em ações militares: aeronaves de combate não tripuladas podem ter matado 16 mil pessoas em quatro países

O MQ-9 Reaper fez os disparos que mataram o general iraniano Qasem Soleimani. (Foto: Reprodução)

O voo comercial da Cham Wings vindo de Damasco pousou no Aeroporto Internacional de Bagdá por volta das 0h30 do último dia 3. Um dos passageiros, com sua comitiva, dispensou a burocracia da imigração — da mesma forma que acontecera na capital síria — e embarcou num comboio de dois carros blindados que o aguardavam ainda na pista. Cerca de 25 minutos depois, cada um dos veículos foi atingido por dois mísseis Hellfire, disparados por um MQ-9 Reaper. As medidas de segurança para a proteção do general Qassem Soleimani não impediram que o comandante das Forças Quds, unidade de elite da Guarda Revolucionária iraniana, se tornasse mais uma entre as milhares de vítimas de drones americanos.

De acordo com o projeto Drone Warfare, da organização não-governamental Bureau of Investigative Journalism, forças americanas realizaram 13.654 ataques com veículos aéreos não tripulados desde 2001, apenas nos quatro países monitorados: Afeganistão, Paquistão, Somália e Iêmen. A estimativa é que essas ações deixaram entre 8.638 e 16.028 mortos, sendo que os relatos de vítimas civis variam de 801 a 1.975; e de crianças, entre 247 e 402.

O primeiro ataque mortal com drones americanos aconteceu no dia 7 outubro de 2001, data de início da Guerra no Afeganistão. O piloto da Força Aérea Scott Swanson, instalado confortavelmente na sede da Agência Central de Inteligência (CIA, na sigla em inglês) em Langley, na Virgínia, controlava remotamente um MQ-1 Predator sobre Kandahar, a mais de 10 mil quilômetros de distância. O ocupante de uma caminhonete foi identificado como Mulá Omar, então líder do Talibã. O Hellfire acertou o alvo, matando dois homens, mas Omar não estava entre eles.

Desde então, os drones se tornaram cada vez mais presentes nas ações militares americanas. Nos oito anos de governo George Bush, os EUA realizaram 109 ataques com drones. No primeiro ano de Barack Obama foram 130. Ao todo, nos dois mandatos do ex-presidente democrata foram registradas 1.812 missões aéreas com aeronaves controladas remotamente. Donald Trump seguiu com a tradição e, no primeiro ano, superou seu antecessor, com 2.776 ataques. O republicano já acumula 11.733 ações até o ano passado, concentradas no Afeganistão.

O relatório Drone Database, elaborado pelo Centro para Estudos sobre Drones, da Bard College, revela que os EUA possuem 23 modelos diferentes de drones em seu arsenal, que vão do minúsculo PD-100 Black Hornet 2, que pesa apenas 33 gramas e é usado para observação do terreno em incursões terrestres, à aeronave de vigilância Global Hawk, com 40 metros de envergadura e mais de 14 toneladas.

Em ações de combate, o Predator era a principal arma até ser substituído pelo Reaper. A aeronave utilizada no ataque mortal contra Soleimani tem envergadura de 20 metros, pesa 4,8 toneladas e pode carregar até 386 quilos de armamentos. O alcance é de 1.850 quilômetros, com autonomia de 27 horas e velocidade máxima de 445 km/h.

30 mil drones no mundo

Mas os EUA não estão sós. Dan Gettinger, autor do Drone Database, conta que 95 países do mundo possuem drones em seus arsenais, sendo que 39 têm aeronaves com capacidades de combate. A estimativa é que existam cerca de 30 mil drones militares em operação no mundo, para diferentes fins, de 171 modelos diferentes, sem contar adaptações feitas em pequenos equipamentos comerciais. E longe do noticiário internacional, eles estão sendo usados em batalhas por todo o mundo, mesmo por países com menor tradição militar, como Azerbaijão e Nigéria.

O Irã, de Soleimani, é apontado como um país avançado nessa tecnologia. O Shahed 129, por exemplo, é praticamente uma réplica do Predator americano. Há suspeitas que o Saegheh, uma versão em miniatura do RQ-170 Sentinel, da Lockheed Martin, tenha sido desenvolvido por engenharia reversa após um drone americano ser abatido.

Sem baixa entre os pilotos

O especialista destaca algumas características que tornam os drones armas formidáveis para o campo de batalha. A mais óbvia é a capacidade de efetuar ataques sem riscos de baixas entre os pilotos, um problema a ser considerado pela opinião pública em tempos de guerra. Drones abatidos não resultam em caixões cobertos por bandeiras. E por não terem pilotos, os drones podem ser mais compactos ou com maior capacidade para armamentos, já que dispensam os equipamentos para manutenção da vida.

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