Fabricantes estrangeiros de armas estudam instalar suas primeiras fábricas no Brasil, mas dizem aguardar a eleição presidencial em outubro para uma definição mais clara de seus planos.
A CZ, da República Tcheca, e a Caracal, dos Emirados Árabes Unidos, estudam já há alguns anos o mercado brasileiro. A avaliação das companhias é que há um ambiente mais favorável no país para novos fabricantes após o Exército brasileiro ter dado seu aval a outro fabricante estrangeiro, a estatal suíça Ruag.
No Brasil há apenas um grande fabricante em operação, a Taurus. Seu único concorrente com produção no País é a Imbel, fabricante de menor porte ligado ao Ministério da Defesa. Ambas têm capital nacional.
“A ideia de instalar uma fábrica aqui existe”, afirmou ao Valor Hugo de Paula, representante da CZ no País. De Paula disse estar numa fase de estudo de custos e de opções de local para a unidade fabril, que, a princípio, deverá ser instalada em Goiás.
Mas, antes de uma decisão final, a empresa espera para ver quem será eleito novo presidente da República para ter uma visão mais clara sobre as possibilidades de novas regras que venham a ampliar o mercado de armas.
“Estamos esperando o próximo governo para ver se vai haver uma liberação maior para os cidadãos comprarem armas”, afirmou Hugo de Paula.
O mercado legal de armas tem um grande comprador: o Estado, por meio das Forças Armadas e das polícias. A compra por civis representa uma fatia menor do negócio no Brasil e tem sido cercada por restrições que começaram com mais força nos anos 1990. O principal momento desse debate foi o referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, em outubro de 2005. O referendo estava previsto no Estatuto do Desarmamento, de dezembro de 2003.
Em 2005, os eleitores responderam a seguinte questão: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”. O comércio continuou legal com apoio de 63,68% dos votos.
Desde 2016, uma medida do Exército abre uma brecha nessas restrições. Foi quando civis com o status de caçadores, atiradores ou colecionadores puderam passar a adquirir e portar armas de fogo – embora ainda sob uma série de condições. “Se tivesse um mercado mais fácil para o civil e se o porte de arma de fato existisse, seria bem melhor”, diz De Paula.
O candidato número 1 do lobby das armas é o deputado Jair Bolsonaro (PSL), único entre os presidenciáveis que fez carreira defendendo que a população deve ter liberdade para adquirir e portar armas como forma de se defender da criminalidade. Bolsonaro também é favorável à entrada de fabricantes estrangeiros como forma de quebrar o domínio a Taurus.
O deputado aparece em segundo lugar em todas as pesquisas de intenção de voto, atrás de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que cumpre pena de prisão. Sem Lula nos cenários das pesquisas, Bolsonaro é o favorito.
Sediada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, a Caracal também está de olho no que acontecerá em outubro. Mas Paulo Humberto Barbosa, representante da companhia no Brasil, diz que o que está em jogo para o grupo não é tanto o sucesso eleitoral do defensor das armas, Bolsonaro.
“Ele não precisa necessariamente ser eleito. A questão é mais é avaliar os cenários sobre estabilidade econômica do País com o próximo governo”, afirmou ao jornal Valor Econômico. “Estamos traçando nossos planos independentemente de mudanças de regras que vierem a ocorrer nesse mercado no Brasil”, disse Barbosa.
“Estamos num momento de observar o cenário político para ver como vai ficar a economia do País”, afirmou Barbosa. A companhia, segundo ele, trabalha com a possibilidade de também fabricar em Goiás. “A ideia é fabricar aqui para atender ao mercado nacional e para exportar para a América Latina”, informou.
Assim como Hugo de Paula, Barbosa não dá detalhes sobre volume de investimento em estudo, sobre quais tipos de armas poderiam vir a ser produzidos no país, ou quando imaginam que isso possa começar.
As duas empresas fabricam pistolas, rifles de assalto, rifles de precisão e submetralhadoras. Para instalarem fábricas no Brasil, as companhias precisam de aval do Exército e da Casa Civil.
De acordo com a assessoria do Exército, o único fabricante estrangeiro que já obteve as autorizações é a estatal suíça Ruag para montar uma indústria de munições no Brasil. Detalhes do projeto ainda não são muito conhecidos. A empresa chegou a assinar um protocolo de intenções com o governo do Pernambuco no fim do ano passado.
