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Os grupos de WhatsApp em defesa de um regime militar no Brasil se multiplicam

Disseminação de boatos na rede social foi fundamental para a construção de um clima de terror. (Foto: Freepik)

Durante a greve de caminhoneiros na última semana, a defesa de uma ruptura democrática no país como solução para a crise política se espalhou por meio de mecanismos digitais. O Jornal do Brasil acompanhou um grupo de pessoas favoráveis à intervenção militar no WhatsApp entre o ápice do movimento dos caminhoneiros e a desmobilização dos bloqueios. Durante cinco dias, a disseminação de boatos foi fundamental para a construção de um clima de terror e descontrole por parte do governo, e os atores por trás da proliferação de notícias falsas seguem obscuros.

Na disputa entre vídeos e fotos de apoio ao exército no grupo que reuniu mais de cem pessoas, prevaleceram áudios que descreviam um cenário caótico no interior do país. Um deles, encaminhado por um homem identificado como Edelson, com o DDD da região metropolitana de Cuiabá, afirma que o Exército seria assumido por “General Mattos”, “guerreiro intervencionista” que determinaria a prisão do presidente Michel Temer e da cúpula do governo. Segundo o áudio, direcionado aos caminhoneiros, as tropas militares executariam o golpe de Estado por volta de meia-noite da última terça-feira. “A guerra começou e vamos terminá-la”, encerra a gravação. Outro áudio, atribuído falsamente ao comandante do Exército, general Eduardo Villas Boas, pede por manifestações pela intervenção nas capitais brasileiras para pavimentar a destituição de Michel Temer e garantir a “ordem”. “Não sabemos quanto tempo o governo interino durará”, alerta “Villas Boas”.


Fóruns favoráveis ao golpe militar se multiplicaram em plataformas como o WhatsApp. Links de acesso livre aos grupos foram disseminados pelos participantes em grupos de famílias e amigos. A divulgação abriu espaço para a entrada de pessoas contrárias à ideia. “Quero saber o que vai mudar na vida do povo essa paralisação”, protestou um número de Porto Alegre identificado como Anderson. “No fim vai acabar em pizza e o prejuízo será irreparável. São alienados achando que parando o Brasil vão resolver algo”, provocou. Mais adiante, depois da forte reação dos apoiadores do movimento, revelou ter tido queda de 50% no faturamento de sua empresa. “Tá explicado o seu desespero”, respondeu um usuário de Goiás. “Espião puxa saco do Temer!”, escreveu outro participante. O membro acabou expulso do grupo.


Na medida em que o movimento perdeu força, informações falsas eram difundidas para apontar uma suposta repressão do governo. Um número de Curitiba repassou um vídeo antigo de manifestantes tentando invadir a Câmara dos Deputados, em Brasília. “O Temer, a pedido do Rodrigo Maia, acabou de decretar estado de sítio. Os deputados estão saindo na p… O exército foi convocado”, disse a pessoa identificada como Lucas. Nas mensagens, a desconfiança em relação à mídia é constante: “A TV não está passando, assistam o vídeo”. O mesmo vídeo foi replicado diversas vezes.

Com o desbloqueio de várias estradas nos últimos dias, o clima foi de decepção. As mensagens não são mais constantes como no início da semana. “Dizem que o chefão das Forças Armadas é ‘peixe’ da Dilma e do Temer. Tô ficando doida. O jeito é tomar uma gelada”, disse Simone, com DDD de Juiz de Fora, acompanhada da foto de uma lata de cerveja. Outro participante reclamou que o brasileiro “desperdiçou a chance de mudar o país” ao abastecer carros em vez de se juntar aos caminhoneiros. Sintetizando o clima de fim de festa para os intervencionistas, uma mulher convocou um boicote às eleições de outubro.

 

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