Apesar do aumento de casos de covid-19, pressão nos hospitais e Estados anunciando medidas restritivas, os índices de isolamento social no Brasil ainda estão distantes dos 70% preconizados por especialistas para frear a disseminação do vírus. Segundo dados do Monitor Estadão/inloco o índice no País estava em 34,4% na última terça-feira (16).
O Estado do Pará registra o índice mais alto de isolamento, com 42,8%. No fim do ranking, estão Espírito Santo (31,2%), Mato Grosso do Sul (31%) e Santa Catarina (30,3%). São Paulo teve taxa de 33,5%.
No caso do Estado de São Paulo, o índice também é monitorado pelo Sistema de Monitoramento Inteligente de São Paulo (SIMI-SP), que na terça apontou 44% de isolamento. A diferença está na metodologia.
Enquanto os dados oficiais são baseados em sinais capturados pelas antenas de operadoras de telefonia, os analisados pelo Monitor Estadão/inloco partem de informações obtidas diretamente de sensores presentes nos sinais de GPS e wi-fi de aparelhos celulares – um modelo reconhecido por entidades da área de computação, como a Conference on Economics and Computation e o Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE), nos Estados Unidos.
Em abril e maio do ano passado, quando os dados do SIMISP flutuavam entre pouco mais de 45% e menos de 60%, o governo do Estado enfatizava a importância de atingir os 70% de isolamento. Agora, por mais que a medida seja recomendada, a gestão estadual não trabalha com um índice como meta, de acordo com a secretária de Estado de Desenvolvimento Econômico Patricia Ellen.
Ela diz que as medidas da fase emergencial devem reduzir a circulação de pessoas e, consequentemente, a transmissão do vírus. “Nós fizemos uma estimativa e, com as mudanças do teletrabalho, vamos ter uma redução de até 4 milhões de pessoas circulando e melhora do isolamento.” Patricia ressalta também que a população precisa colaborar e entender que a restrição de circulação tem como objetivo evitar o colapso nos hospitais e salvar vidas.
Para o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), apenas com uma taxa de isolamento na casa dos 70% é possível reduzir o número de casos e conter a grave situação dos hospitais.
“Fase emergencial ainda não é lockdown. Nunca chegamos a um nível de 70% de isolamento e, para evitar a transmissão rápida, só acima de 70%.”
Croda explica que duas semanas de lockdown seriam suficientes para alcançar este resultado. “Só acima de 60% que tem a taxa de contágio abaixo de 1 com queda lenta e progressiva. Com 50%, não tem aceleração, mas não tem redução. É estabilidade com platô elevado.”
Pará
No terceiro dia de lockdown em cinco municípios da Região Metropolitana do Pará, o movimento nas ruas era menos intenso do que em dias normais, mas ainda sim era possível ver muitas pessoas circulando nos locais públicos.
Consumidores e trabalhadores se aglomeravam no entorno do mercado do Ver-o-peso, em Belém. Já nas Avenidas Nazaré e José Malcher, duas das mais movimentadas do Centro, por volta das 11h30, a movimentação de veículos estava tranquila, sem engarrafamentos, como é comum em dias sem restrições.
Desde a quarta-feira (17), quem for flagrado nas ruas sem um motivo elencado nas atividades essenciais do decreto estadual fica passível de multa de R$ 150. Até terça (16), a fiscalização era de cunho educativo. Agora, barreiras com agentes da segurança pública foram montadas nos principais corredores de cinco cidades para tentar coibir a circulação indevida.
“Nós estamos retornando com a divulgação desses dados e, no primeiro dia da publicação, já em vigor o lockdown, nós tivemos o Pará como o segundo melhor isolamento social do Brasil e Belém como o melhor isolamento entre as capitais do País. Claro que ainda precisamos melhorar, ainda é muito aquém do que é desejado pelos órgãos de saúde, mas reflete justamente o efeito do lockdown”, explicou o secretário de Segurança Pública e Defesa Social do Pará, Ualame Machado.
Durante o bloqueio total das atividades, a maior dificuldade do belenense é manter o distanciamento social dentro do transporte público. Os trabalhadores precisam ficar espremidos dentro dos coletivos, para ir e voltar para casa.
“É impossível não pegar o vírus dentro de um ônibus lotado. Tem pessoas que vêm na porta, penduradas. Com o calor, tiram a máscara para enxugar o suor”, lamenta a babá Antônia Silva, de 42 anos.