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Os maiores bancos privados do País mantêm os lucros e os juros elevados, apesar de a taxa básica de juros ser a mais baixa da história

Contas de consumo e carnês que venceram nos dias 24 e 25 de fevereiro podem ser pagos, sem acréscimo, segundo a Febraban. (Foto: Agência Brasil)

Nos grandes bancos de varejo, a esperada redução do spread – diferença entre o custo de captação de recursos pelos bancos e o juro efetivamente cobrado dos clientes – tem sido lenta, o que vem garantindo fortes lucros às instituições financeiras, como pode ser observado nos balanços relativos ao primeiro trimestre, divulgados recentemente.

Essa estratégia de redução gradual, segundo analistas, visa a manter a margem de ganhos enquanto novas concessões não ganham força. Tudo isso em um cenário que traria uma combinação ideal, onde a economia está iniciando seu processo de recuperação, a inadimplência cede e os juros nunca estiveram tão baixos.

“O spread deve começar a ceder, mas não na velocidade em que a Selic e o CDI caíram. O estreitamento desse spread só vai começar a aparecer no segundo semestre, quando o volume de empréstimos para pessoas físicas, e pequenas e médias empresas, ficar maior”, argumenta João Augusto Salles, economista da Lopes & Filho Consultoria.

A taxa básica de juros da economia, a Selic, saiu de um patamar de 14,25% ao ano, em outubro de 2016, para os atuais 6,50%, com chance de ao menos mais um corte este ano. O CDI, que serve de referência nas operações interbancárias, acompanha de perto a Selic e, por isso, também sofreu forte redução. Como os spreads não recuaram na mesma proporção, passaram a pesar mais na taxa final paga pelo tomador de crédito.

De acordo com dados do BC (Banco Central), a taxa de juros média no Brasil era de 26,2% ao ano em março, considerando-se operações a consumidores e empresas. Desse total, o spread representava 20 pontos percentuais. Em 12 meses, houve queda de 3,8 pontos percentuais, enquanto a Selic recuou 5,75 pontos nesse período.

Os analistas lembram que, apesar da retomada da economia, os bancos continuam seletivos na hora de emprestar dinheiro, o que faz com que a expansão do crédito demore a ganhar tração. Com os juros elevados, isso não é um problema, porque eles deixam de emprestar o dinheiro e fazem operações no mercado, por meio da tesouraria, o que garantia parte dos lucros bilionários. Mas a Selic em um dígito não permite que esses os ganhos de tesouraria cresçam – por isso a queda dos spreads é adiada em um ambiente de concentração bancária ainda elevada.

Luis Miguel Santacreu, analista da Austin Rating, espera que os spreads caiam um pouco até o fim do ano, mas não de forma abrupta. Isso porque os bancos argumentam que, para que isso ocorra, são necessárias algumas reformas microeconômicas, como a aprovação do cadastro positivo.

“O que temos é um cenário de pouco crédito e juros altos, o que é desfavorável ao crescimento. E mesmo com o crédito patinando há três anos e a economia ruim, os lucros dos bancos cresceram, o que mostra o peso do spread e das receitas de serviços”, avalia.

Os três maiores bancos privados do País apresentaram crescimento do lucro no terceiro trimestre. Em comum, tiveram leve aumento na carteira de crédito e uma forte queda nas despesas com provisões para devedores duvidosos – reserva para lidar com uma eventual inadimplência. Já sobre os spreads, a sinalização foi de queda lenta. No Santander, o spread médio chegou a subir entre janeiro e março.

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