O número de senadores sem votos pode aumentar exponencialmente em 2019. Dos 27 senadores cujos mandatos se estendem até 2023, 18 pretendem concorrer às eleições de outubro, a maioria ao cargo de governador — o que pode abrir espaço para os suplentes, que herdarão as vagas daqueles que se elegerem.
Se todos forem eleitos, o que é improvável, serão 18 suplentes ganhando quatro anos de mandato — quase um quarto dos 81 senadores da Casa. Conforme o jornal O Globo, hoje, pelo menos a metade lidera a corrida eleitoral em seus estados. O número de suplentes efetivados pode ser até maior, com a eventual nomeação de senadores eleitos para a próxima legislatura para compor o Executivo.
Maneira tradicional de incluir outsiders na política, a suplência é quase sempre preenchida por financiadores da campanha do titular, nomes indicados por partidos ou pela chapa, parentes próximos ou puxadores de votos, como pastores da igreja evangélica, por exemplo.
No Acre, o senador Gladson Camelli (PP) lidera as pesquisas de intenção de voto para governador, com a preferência de cerca de 46% do eleitorado, de acordo com a última pesquisa Vox Populi no estado. Caso eleito, sua cadeira pode ficar com Mailza Gomes, que é ligada à Assembleia de Deus. Candidato ao governo do Amapá, o senador Davi Alcolumbre (DEM), se eleito, deixará ao irmão, Josiel Alcolumbre, a vaga no Senado.
Em Goiás, o senador Ronaldo Caiado (DEM) já decidiu que concorrerá ao governo e pode ser substituído pelo suplente que financiou sua campanha. Caso eleito, seu cargo será entregue ao empresário Luiz Carlos do Carmo. Em 2014, ele declarou à Justiça eleitoral patrimônio de R$ 7,8 milhões, dos quais R$ 1,9 milhão em espécie.
Pré-candidata ao governo do Espírito Santo, a senadora Rose de Freitas (PMDB) pode transformar o primeiro suplente, Luiz Pastore, em senador. Empresário do ramo siderúrgico e do mercado de capitais, declarou patrimônio de R$ 19,8 milhões em 2014, sendo R$ 5 milhões em quadros e obras de arte. No mesmo ano, contribuiu com R$ 1,14 milhão para a campanha da titular.
Entre os suplentes “financiadores” mais ricos do Senado, o empresário Joel Malucelli declarou R$ 236 milhões em 2014. Primeiro substituto de Álvaro Dias (PODE-PR), pré-candidato à Presidência, Malucelli foi alvo da 49ª fase da operação Lava-Jato, no início de março, acusado de ter pago propina ao ex-ministro Antonio Delfim Netto para incluir uma de suas empresas no consórcio Norte Energia, responsável pelas obras da usina de Belo Monte, no Pará.
A ex-deputada federal Nilda Gondim (PMDB-PB), mãe do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo Filho, pode ocupar o lugar de José Maranhão (PMDB-PB), pré-candidato ao governo da Paraíba. Seu ex-marido, Antonio Vital do Rêgo, foi secretário estadual de articulação governamental na Paraíba em 2009, durante a gestão de Maranhão, que mais uma vez oferece um cargo à família.
Mais 11 senadores pretendem concorrer ao governo de seus estados: Roberto Rocha (PSDB-MA), Antonio Anastasia (PSDB-MG), Wellington Fagundes (PR-MT), Paulo Rocha (PT-PA), Omar Aziz (PSD-AM), Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE), Romário (PODEMOS-RJ), Fátima Bezerra (PT-RN), Acir Gurgacz (PDT-RO), Telmário Mota (PTB-RR) e Kátia Abreu (PDT-TO). O senador Fernando Collor (PTC-AL) planeja disputar a Presidência da República.
“Os suplentes não têm representatividade”, afirma o cientista político Valdir Pucci. “Não há qualquer ligação programática nem ideológica com o eleitor.”
Dos 81 senadores eleitos em 2010 e 2014, 43,2% entregaram, em algum momento do mandato, o cargo a um suplente.