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Oscar 2021: indicado a melhor filme, “O Som do Silêncio” levanta debate sobre inclusão de pessoas com deficiência

Riz Ahmed é o protagonista de 'O som do silêncio': ele foi indicado na categoria de melhor ator. (Foto: Divulgação)

Paul Raci, indicado ao Oscar por interpretar um conselheiro de usuários de drogas que perderam a audição em “O Som do Silêncio” (Sound of Metal), diz que o comentário mais comum que recebe de surdos sobre o filme é “como você retrata um bando de drogados surdos como pessoas legais”.

“Isso soa um pouco estranho”, disse Raci em uma entrevista, “mas eles estão felizes que você os esteja mostrando de uma forma que os torna normais, como você e eu. Eles têm as mesmas dificuldades.”

Os defensores esperam que os elogios a “O Som do Silêncio”, um dos candidatos a melhor filme no Oscar, que será realizado neste domingo (25), e a outros títulos levem a mais enredos apresentando pessoas com deficiência.

A sub-representação de mulheres, negros e outros em Hollywood tem enfrentado escrutínio nos últimos anos. Os estúdios de cinema e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, grupo que premia o Oscar, tomaram medidas para aumentar a presença das consideradas “minorias sociais” na frente e atrás das câmeras. Os ativistas têm pressionado para que esses esforços também incluam pessoas com deficiências de todos os tipos.

Nos cem filmes de maior bilheteria de 2019, apenas 2,3% dos personagens falantes apresentavam deficiência, de acordo com a Annenberg Inclusion Initiative da Universidade do Sul da Califórnia. Esse percentual, bem abaixo dos 26% de adultos com deficiência nos EUA, não mudava há cinco anos.

“Hollywood ainda tem um longo caminho a percorrer”, diz Lauren Appelbaum, vice-presidente de comunicações da RespectAbility, um grupo sem fins lucrativos que atende pessoas com deficiência. A única atriz surda a ganhar um Oscar foi Marlee Matlin, por “Filhos do Silêncio”, de 1986.

Este mês, as estrelas de Hollywood, incluindo Amy Poehler e Naomie Harris, assinaram uma carta pedindo aos estúdios que contratem funcionários com deficiência para promover a inclusão dentro e fora das telas. O esforço foi liderado por uma agência de talentos que representa artistas e atletas com deficiência.

“O Som do Silêncio” é estrelado por Riz Ahmed como Ruben Stone, um baterista que de repente perde a audição. Quatro anos depois de se recuperar do vício, Stone vai para uma comunidade de dependência química para surdos, que é administrada pelo personagem de Raci, chamado Joe.

Raci, de 73 anos, cresceu com pais surdos e disse que seu primeiro idioma era a língua de sinais americana. Antes de “O Som do Silêncio”, ele estava trabalhando como intérprete de linguagem de sinais e atuando no Deaf West Theatre, em Los Angeles, que incorpora o inglês falado e a linguagem de sinais em suas produções.

Os cineastas receberam algumas críticas, inclusive da Associação Nacional de Surdos dos EUA, por escalar dois atores com audição — Ahmed e Raci — para papéis principais, em vez de atores surdos. Vários outros do elenco eram surdos.

Ahmed foi indicado ao prêmio de melhor ator por sua atuação no filme. Raci disse que sua formação na cultura surda o ajudou a interpretar o papel, e ele espera que “O Som do Silêncio” abra portas para atores surdos.

“Há muitos atores surdos, muitos deles talentosos, que merecem trabalhar”, diz ele.

Também na corrida ao Oscar estão o candidato a melhor documentário “Crip Camp: Revolução pela Inclusão”, sobre o movimento pelos direitos dos deficientes, e o curta “Feeling Through”, estrelado pelo ator surdo e cego Robert Tarango.

“Pessoas que nunca souberam nada sobre a comunidade surda-cega saem disso sentindo uma conexão pessoal real”, diz o diretor Doug Roland. “Esse é o poder do cinema”, finaliza ele.

 

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