De repente, o pai falou: “Quer dizer que você não gosta de sala de aula? Tudo bem, vá fazer suas coisas e trabalhar. Mas leia muito. Não quero ver um filho numa roda de amigos sem saber o que dizer”.
O jovem, que decidiu largar a faculdade de Propaganda e Marketing, seguiu o conselho: dali para a frente, tudo o que via ou lia, ele repassava adiante, com um gracejo na boca.
Falante, nunca escondeu suas pretensões: foi cedo que Otaviano Costa teve certeza de sua vocação.
Aos 15 anos, deixou Cuiabá, no Mato Grosso, para jogar vôlei em São Paulo, onde logo tratou de se apresentar à porta da rádio Jovem Pan, clamando emprego. “Gritei sem parar. Chamaram até os seguranças”, lembra o apresentador do “Vídeo show”, atração do qual faz parte desde 2013.
Pouco depois, aos 16, aconteceu a primeira participação na TV, no humorístico “A Escolinha do Golias” (1990-97), do SBT. Hoje, aos 42 anos, sabe que fez certo.
“Nasci comunicador. Essa é a minha essência maior. Sou absolutamente feliz assim.”
Apesar de ter consolidado uma vasta trajetória em atrações de entretenimento — ele chegou a comandar o programa de auditório “O+”, na Band, em 2000, após substituir Luciano Huck no “Programa H” —, Otaviano entende que precisou mostrar (novamente) a que veio, nos últimos anos.
Sem mágoas, o grisalho risonho tem total noção de que o passado ficou esquecido para a maioria dos telespectadores.
Recomeço
A retomada da carreira, como ele diz, teve início em 2013, depois de participar da novela “Salve Jorge”: chamado para integrar a bancada do “Amor & sexo”, tomou para si a atenção ao tirar a roupa no meio do estúdio liderado por Fernanda Lima.
Ali, não teve jeito. Instigado, o povo quis saber quem era, de fato, o então (apenas) marido de Flávia Alessandra.
No próximo “Amor & sexo”, Flávia Alessandra vai acompanhar o marido na bancada do programa. (Foto: Reprodução)
“Sabia que precisava reconstruir minha imagem no ar, como comunicador. ‘Amor & Sexo’ serviu para mostrar esse showman de novo, esse cara que topa tudo em nome do entretenimento. Abandonar a dramaturgia e me dedicar a isso foi a decisão mais certeira e definitiva da minha vida. Estava confiante de que, com paciência, iria chegar nesse ponto atual. Só não imaginava que tudo aconteceria dentro do próprio ‘Vídeo Show’. Devo muito ao programa.”
Por programa, entende-se a liberdade dada, pela direção da emissora, a Otaviano e Monica Iozzi, durante a reformulação da atração em 2015.
Entrosada, a dupla de figuras cômicas deitou e rolou em situações inusitadas transmitidas ao vivo, como nunca antes havia sido feito em 32 anos do produto.
Em pouco tempo, a interação do público aumentou 600%. Foi um feito. Hoje, com a ausência da colega — Joaquim Lopes está substituindo temporariamente Monica, que protagonizará a série “Vade-retro”, na Globo, sem data de estreia —, Otaviano está tranquilo. Mais uma vez, ele enfrenta um novo ciclo.
“Passei por um processo de viuvez. Estou triste, mas também estou feliz. Há uma energia vital no estúdio. Amo televisão. Ter um programa como o ‘Vídeo show’ sob a minha tutela é uma alegria. Imagina capitanear algo que existe há tantos anos!”, festeja o apresentador, admitindo que, sim, quer voar alto.
“É claro que penso maior. Tenho sonhos. O que desejo mesmo é um ‘Vídeo Show’ em evolução, para transformar o que já deu certo em algo ainda melhor. A direção da casa entende que tem um comunicador que adora auditório. E eu vou querer isso! Como? Quando? Se será agora ou daqui a 20 anos… Ainda preciso jogar muitos búzios para saber.”
Para alcançar o futuro que almeja, Otaviano se volta ao conselho paterno: além de se informar exaustivamente sobre temas improváveis, ele pensa e repensa, inúmeras vezes, sua localização no mundo, como costuma explanar.
A caricatura propagada na TV, de um piadista constante, é incompatível com o perfil do homem que faz tudo pela filha Olívia, de 4 anos, e pela enteada Giulia, de 16.
Ota, apelido pelo qual é chamado pelos amigos, é um sujeito sério. Mais do que qualquer um imagina.
“Sou uma boa companhia para uma noite de bons papos. Não fico fora de uma conversa sobre Segunda Guerra Mundial, derrubada do Muro de Berlim, Perestroika, Guerra dos Farrapos ou Mensalão. Não sou o cara engraçado 24 horas por dia. Sou mais do que isso”, ressalta.
“As pessoas até hoje acham que é hiperatividade o que eu pratico nos estúdios. Todos esquecem que sou convocado justamente para fazer aquilo. Fora dali, sou 100 Volts. Sei onde estou e como estou. Na minha juventude, também era assim. Quando estava em um velório, não brincava à beira de um caixão. Nunca fui aquele maluco que sai pulando na parede de casa e tacando fogo no terreno. Tenho noção de responsabilidade desde moleque.”
Internet
Ávido usuário de redes sociais, Otaviano é indiferente às eventuais críticas que recebe em suas contas virtuais na internet.
Com o tempo, aprendeu que há poucos, mas possíveis dissabores em ser conhecido. Cuidadoso, responde, porém, a todas as mensagens carinhosas que lhe são enviadas. Uma por uma.
“Não faço terapia há mais de dois anos. Depois que descobri a palavra ‘block’, para banir usuários no Facebook, tudo mudou. Sei separar o que é bom e inútil”, frisa.
“Não vim pela fama, não vim pela cama, não vim pelo dinheiro. É o contato com as pessoas que me move. Sei que tenho uma missão.”
Família
Em casa, ele sorri de orelha a orelha quando vê a filha deslizar pincéis na parede destinada aos rabiscos da pequena.
“Não criamos uma bolha”, reforça o pai coruja. Ao lado de Flávia, com Giulia, a família debate, com naturalidade, temas normalmente difíceis, como sexualidade. Sobre isso, ele não tem dúvidas: foi culpa do “Amor & sexo”, em parte — no próximo programa ele aparecerá ao lado da mulher, revelando detalhes íntimos do casal.
Orgulhoso da cria, o apresentador presume, diariamente, o momento em que a filha avisar: “Estou indo embora”. O máximo que ele poderá responder será: “Tudo bem, vá fazer suas coisas e trabalhar. Mas leia muito. Não quero ver uma filha numa roda de amigos sem saber o que dizer”.
“Não prendo Olívia. Solto mesmo! Ela se fantasia, canta e se pinta inteira”, conta, aos risos. “Não vou ter moral de impedi-la de sair de casa, se ela quiser. Vou ter que apoiar.” (Gustavo Cunha/AG)
Apresentador posa com a filha, Olívia, e a enteada, Giulia. (Foto: Reprodução)