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Ozempic e Mounjaro: vou ganhar peso se parar de tomar? Em quanto tempo? Estudo calcula

As canetas injetáveis atingiram uma popularidade surpreendente. (Foto: Reprodução)

O primeiro medicamento da classe dos análogos do GLP-1, que imitam a ação desse hormônio natural produzido no intestino, tornou-se uma opção terapêutica para o diabetes tipo 2 ainda nos anos 2000. Mas foi só mais recentemente, com a introdução de moléculas mais sofisticadas – como a semaglutida (do Ozempic e Wegovy) e a tizerpatida (do Mounjaro) – que as canetas injetáveis atingiram uma popularidade surpreendente. É que os estudos começaram a mostrar que, além de regular os níveis de açúcar no sangue, esses medicamentos poderiam promover uma perda de peso significativa.

Com base nesses resultados, as canetas passaram, então, a ser indicadas no tratamento da obesidade, um problema de saúde global ascendente.

Seja pelo custo – que pode ultrapassar R$ 2 mil por mês no Brasil – ou pela visão ainda estigmatizada da obesidade, frequentemente tratada como falta de disciplina em vez de uma doença crônica, as discussões sobre os medicamentos da classe dos GLP-1 quase sempre chegam em uma mesma pergunta: o que acontece com o peso quando o tratamento é interrompido?

Pesquisadores da Universidade de Oxford, do Reino Unido, conduziram uma revisão de vários estudos com pacientes com obesidade que utilizaram análogos do GLP-1 e trouxeram uma estimativa: considerando a classe como um todo, o peso seria recuperado em 11 meses. Ao focar nos medicamentos mais novos, isso aconteceria em cerca de 1 ano e 8 meses.

O resumo da pesquisa, com os principais dados, foi apresentado no 32º Congresso Europeu de Obesidade, que ocorreu entre 11 a 14 de maio, em Málaga, na Espanha. O estudo ainda não foi publicado em uma revista científica com revisão por pares.

Em média, os participantes perderam 7,9 kg ao final do tratamento com qualquer medicamento da classe dos GLP-1, e 16,1 kg usando as versões mais novas.

Após interromper o uso, a taxa de recuperação de peso foi de 0,7 kg por mês para todos os análogos do GLP-1, e 0,8 kg/mês para os mais recentes, com uma estimativa de recuperação de 8,3 kg e 9,6 kg dentro do primeiro ano após a interrupção do tratamento, respectivamente.

Surpresa? Especialistas brasileiros ouvidos pelo Estadão não ficaram nada espantados com os resultados.

“A interrupção do tratamento de doenças crônicas leva ao retorno à condição original de não tratamento. Isso também é válido para o manejo da obesidade”, afirma o endocrinologista Bruno Geloneze, pesquisador principal do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Nos últimos anos, a obesidade tem sido reconhecida, especialmente pela comunidade médica e científica, como uma doença crônica, progressiva e recidivante. Em outras palavras, é uma condição que não tem necessariamente uma cura, avança ao longo do tempo e, como tem chance de retornar após a melhora, o tratamento precisa ser contínuo – até porque ele garante qualidade de vida ao paciente.

“Se entendêssemos a obesidade como outra doença crônica, a exemplo de hipertensão e diabetes, não existiria ou não faria nenhum grande sentido um estudo para avaliar o que que acontece com a pressão arterial ou a glicemia das pessoas um ano após elas pararem de usar as medicações”, comenta o endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso) e presidente eleito da World Obesity Federation, que acompanhou a apresentação dos resultados no congresso.

“Mas com obesidade ainda são feitos esses estudos, porque, embora muitos digam que a entendem como doença crônica, não a tratam como tal”, diz. Segundo ele, a maior parte das pessoas ainda acredita que basta usar o remédio por um tempo determinado e, após atingir o peso almejado, está tudo resolvido – assim como fazemos com antibióticos quando precisamos nos livrar de uma bactéria.

A volta do peso tem a ver com um mecanismo natural do corpo, que tenta, de certa forma, “resistir” ao emagrecimento.

“Quando emagrecemos, a fome aumenta e o gasto energético diminui. Um estudo do pesquisador Kevin Hall mostrou que a cada quilo perdido, a fome sobe cerca de 95 calorias, enquanto o gasto cai 25”, explica Halpern. Daí o famoso efeito sanfona.

Cabe lembrar que o impacto dos análogos do GLP-1 na redução do peso passa por uma redução do apetite. “Ao parar o remédio, ele volta com força”, afirma o vice-presidente da Abeso.

O tempo que leva para retomar o peso inicial parece ser influenciado principalmente pela “potência” da medicação usada. “Se a perda foi pequena, a recuperação tende a ser mais rápida. Já em perdas maiores, o ganho costuma ser gradual. No início, pode haver uma fome mais intensa, mas os dados com remédios mais modernos, como semaglutida e tirzepatida, mostram que, após um ano, não há recuperação total do peso perdido”, comenta Halpern.

Mas o especialista ressalta que há muita variação de pessoa para pessoa, já que fatores genéticos e comportamentais interferem na velocidade de recuperação do peso. O que o estudo faz é olhar para médias populacionais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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