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Ozzy Osbourne colocou 60 porcos em uma igreja em clipe para ironizar evangelista americano

Atitude foi em protesto depois que um pastor foi flagrado com uma prostituta em um motel. (Foto: Reprodução)

Ozzy Osbourne, que morreu na terça-feira (22) aos 76 anos, nunca foi o tipo de artista que economiza no choque. Mas em 1988, ele decidiu levar a ironia a um novo patamar: enfiou 60 porcos dentro de uma igreja cenográfica como forma de protesto contra um pastor moralista. Resultado? Um vídeo lendário e um festival de cocô que quase afogou o set.

A música em questão é “Miracle man”, faixa que abre o disco No rest for the wicked, primeiro trabalho de Ozzy ao lado do então jovem guitarrista Zakk Wylde. O alvo da vez era o televangelista Jimmy Swaggart, conhecido por sua retórica inflamável contra o rock, que nos anos 1980 fazia campanha contra o “mal do rock satânico” e citava Ozzy com frequência como símbolo da degeneração da juventude.

Só que em 1988, a hipocrisia cobrou seu preço: Swaggart foi flagrado em um motel com uma prostituta e viu seu império de fé desmoronar. Ozzy, sempre atento à teatralidade e ao sarcasmo, não perdeu a oportunidade de transformar o escândalo em munição artística. A provocação ganhou forma no videoclipe de “Miracle man”, recheado de referências ao pastor e ambientado numa igreja montada em estúdio.

Em entrevista à revista Guitar World, Ozzy relembrou a gravação do clipe, marcada por um momento tão escatológico quanto simbólico: “Quando a música começou, todos os porcos cagaram ao mesmo tempo. O som tava alto demais lá dentro. Minha esposa só gritou ‘que merda!’ Eu tava com umas botas de camurça novas e nunca mais usei. Não dava pra tirar o cheiro de bosta de porco delas”, disse, com seu humor característico.

A ousadia visual do vídeo reforçou a imagem de Ozzy como um dos maiores ícones do rock transgressor. Mais do que uma provocação gratuita, o clipe foi também uma crítica à hipocrisia religiosa e aos julgamentos morais seletivos que artistas do heavy metal enfrentavam constantemente durante a década de 1980.

O uso de animais como símbolo de rebeldia não era novidade na carreira do músico britânico. Em 1982, ele chocou o público ao morder a cabeça de um morcego durante um show em Iowa — o que mais tarde disse ter sido um acidente, acreditando que o animal era de borracha. Ainda antes disso, arrancou a cabeça de um pombo com uma mordida em plena reunião de negócios com executivos da gravadora CBS.

Esses episódios, embora controversos, ajudaram a construir a figura do “Príncipe das Trevas”, apelido que Ozzy cultivou ao longo das décadas. Seus excessos, tanto no palco quanto fora dele, tornaram-se parte indissociável de sua mitologia pessoal — uma combinação de caos, humor ácido e crítica velada à moral dominante.

Mesmo com o passar dos anos, Ozzy nunca se afastou totalmente das provocações. Seu legado musical e comportamental segue sendo celebrado por fãs do mundo inteiro, e momentos como o clipe de “Miracle man” continuam vivos como retrato da sua irreverência, sempre afiada e, acima de tudo, autêntica.

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