Liderando a corrida presidencial com 57% dos votos válidos na pesquisa Ibope divulgada na terça-feira (23), o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) tem obrigado o universo diplomático de Brasília a gastar horas em telefonemas para tentar, sem sucesso, estabelecer um canal de contato com sua campanha. Embaixadas de Uruguai, Colômbia e Peru tentam há cerca de um mês conseguir um número de celular do ex-capitão do Exército que possa ser usado pelos chefes de Estado vizinhos para telefonar ao presidenciável, em caso de vitória no domingo (28).
Até o momento, porém, as investidas para firmar um canal foram frustradas. Os responsáveis pela missão são diplomatas que ocupam a chefia de chancelaria no Brasil, ou seja, o cargo mais importante depois do embaixador.
Segundo funcionários das embaixadas, os representantes dos governos citados contataram a equipe de comunicação de Bolsonaro e também o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, além de coordenadores de campanha. Até a manhã desta terça países como o Peru, por exemplo, só tinham conseguido contatos com coordenadores da campanha por telefone, como o deputado federal Fernando Francischini (PSL-PR).
Até agora Bolsonaro tem privilegiado o diálogo com dirigentes sul-americanos de direita, como o presidente da Argentina (Mauricio Macri), Chile (Sebastián Piñera) e Paraguai (Mario Abdo Benítez). A ideia do candidato do PSL, que é crítico ao modelo do Mercosul, é criar uma “aliança liberal” com países do hemisfério sul. No programa de governo de Bolsonaro, ele não traça planos alternativos para o bloco econômico, mas se compromete a aprofundar a integração com países da América Latina “livres de ditaduras”. Destaca também que se aproximará de nações preteridas “por razões ideológicas”.
No domingo (21), o presidente do Paraguai recebeu um telefonema de Bolsonaro. Segundo Benítez relatou em uma rede social, o presidenciável falou sobre suas intenções de fortalecer as relações do Brasil com o país, caso seja eleito. O candidato do PSL respondeu, também por meio de uma rede social, agradecendo a “consideração” de Abdo Benítez. Na semana anterior, Bolsonaro havia recebido no Rio de Janeiro senadores chilenos aliados ao presidente do Chile. Na ocasião, disse que quer se aproximar cada vez mais do país.
Os representantes das embaixadas também fizeram contato com a campanha de Fernando Haddad (PT), com o mesmo objetivo. Neste caso, o grupo teve sucesso em ser atendido.