A promotora chefe da investigação do duplo homicídio da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes fez acusações duras à ex-procuradora-geral da República Raquel Dodge. Os ataques estão registrados em um documento de 71 páginas, que corre em segredo de Justiça, obtido com exclusividade pelo portal G1.
O Ministério Público (MPRJ) chega a dizer que a atuação da PGR pode municiar a defesa de acusados.
Procurada, a PGR informou que a manifestação de Dodge foi apresentada nos autos do processo, cujas peças são sigilosas. “Atualmente ela não atua mais no caso”, acrescentou o órgão.
As críticas estão registradas nas chamadas alegações finais do MPRJ no Incidente de Deslocamento de Competência (IDC) de número 24, aberto pela ministra Laurita Vaz após pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), feito em 17 de setembro do ano passado, às vésperas da saída de Dodge do cargo.
Simone Sibilio, coordenadora do Grupo de Ação e Repressão contra o Crime Organizado (Gaeco) do MPRJ, afirma, de acordo com trechos diluídos no documento, que Dodge agiu por “capricho pessoal”, usou “argumentação falaciosa”, provoca “balburdia processual”, baseou-se em “disse me disse” e traz “prejuízos incomensuráveis” ao caso, “sem conseguir enxergar o malefício que produziu”.
O processo, que analisa se toda a investigação deve sair da esfera estadual e ir para a federal, tramita em segredo de Justiça e, até a publicação desta reportagem, não possuía decisão registrada no andamento processual público do Tribunal.
Na visão da PGR, há uma “possível má conduta policial” (no Rio) e “vestígios da falta de isenção das autoridades encarregadas da investigação, que podem explicar a dificuldade em elucidar os homicídios”.
O órgão federal afirma que “manter a investigação no âmbito estadual, no contexto já provado, pode consagrar o desrespeito às obrigações internas de garantia aos Direitos Humanos”.
