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Para proteger Trump do escândalo, Câmara dos Estados Unidos antecipa recesso para adiar votação sobre liberação dos arquivos do caso Epstein

Presidente dos EUA afirmou que irá impor tarifas de até 100% contra produtos russos, o que pode aumentar o preço do petróleo. (Foto: The White House)

O presidente da Câmara dos Estados Unidos, Mike Johnson, decidiu antecipar em um dia, para quarta-feira, o início do recesso parlamentar, para evitar votações sobre a liberação dos arquivos sobre o processo contra o milionário Jeffrey Epstein, acusado de tráfico sexual. Apesar de Epstein ter morrido em 2019, o caso voltou a movimentar Washington, e expôs divisões dentro da base do presidente Donald Trump.

— Já chega de sermos ensinados sobre transparência. Não vamos fazer jogos políticos com isso — disse Johnson, reclamando dos “esforços intermináveis para politizar a investigação de Epstein”.

Os republicanos planejavam aprovar esta semana uma medida de imigração, um projeto de lei de licenciamento e a revogação de algumas regulamentações da era do presidente Joe Biden. Mas tudo mudou com o caso Epstein, e com a pressão por votações ligadas à liberação de documentos sigilosos do processo.

Após afirmar inicialmente que o material deveria ser divulgado, Johnson prometeu, na última segunda-feira, que nada seria votado antes do recesso. Ele também alega que a base, ao contrário do que dizem analistas políticos, está unida, algo que condiz com a realidade do plenário

— Crimes foram cometidos — disse a republicana Marjorie Taylor Greene, ouvida pelo New York Times. — Se não houver justiça e responsabilização, as pessoas vão se cansar disso.

O também republicano Thomas Massie, que tem se levantado com frequência contra Trump, disse que ainda planeja uma votação para liberar os arquivos de Epstein em setembro, com a ajuda dos democratas, que veem possíveis benefícios eleitorais com a crise interna no meio trumpista.

— Ele simplesmente nos disse para enfiarmos a cabeça na areia sobre esse caso Epstein — disse Massie.

Conspiração x Realidade

Jeffrey Epstein, um influente milionário que contava com amigos importantes, como Donald Trump, foi acusado de liderar uma rede de tráfico sexual e de abusar sexualmente de menores de idade. Ele morreu enquanto aguardava julgamento, em 2019, mas a existência de uma suposta lista de clientes inflamou teorias da conspiração por mais de uma década. O próprio Trump, quando era candidato à Casa Branca, no ano passado, disse que faria novas revelações caso fosse eleito, incluindo sobre os clientes de Epstein.

Trump venceu, mas investigações posteriores comprovaram que a tal lista de clientes não existe, e que as narrativas conspiracionistas não correspondem à realidade. Parte da base trumpista, incluindo muitos parlamentares, não se deu por satisfeita, e cobra a liberação de novos documentos, apesar da relutância de Trump. Na semana passada, o Departamento de Justiça pediu que o tribunal de Nova York responsável pelo caso torne públicos depoimentos sigilosos de testemunhas e vítimas, um processo que, caso seja aceito pelo juiz, pode levar meses.

Em paralelo, a Casa Branca e o Congresso também jogam suas atenções para a companheira de Epstein, Ghislaine Maxwell, condenada a 20 anos de prisão por tráfico humano. O pedido do Departamento de Justiça ao tribunal de Nova York, na semana passada, incluía depoimentos do julgamento dela, e nesta terça-feira o vice-secretário de Justiça, Todd Blanche, afirmou que pediu uma reunião com Maxwell, que interagia com os contatos de Epstein, incluindo Donald Trump.

“Comuniquei-me com o advogado de Maxwell para determinar se ela estaria disposta a falar com os promotores do Departamento”, escreveu Blanche em suas redes sociais. “Se Maxwell tiver informações sobre alguém que cometeu crimes contra vítimas, o FBI e o Departamento de Justiça ouvirão o que ela tem a dizer”. Ele disse que está agindo sob as instruções de Trump para divulgar todas as evidências “confiáveis”.

Ainda nesta terça-feira, o Comitê de Supervisão da Câmara, controlado pelos republicanos, votou pela intimação de Maxwell “o mais rápido possível”, em uma ação que aconteceria em parceria “com o Departamento de Justiça e a Secretaria de Prisões”.

“Este depoimento ajudará o povo americano a entender como Jeffrey Epstein foi capaz de realizar suas ações malignas por tanto tempo sem ser levado à justiça”, disse o deputado Tim Burchett, autor da moção pedindo o depoimento, em um comunicado.

Em suas redes sociais, David Oscar Markus, advogado de Maxwell, advogado de Maxwell, confirmou que está “em negociações com o governo e que Ghislaine sempre testemunhará com sinceridade”, e agradeceu à Casa Branca “por seu comprometimento em descobrir a verdade neste caso”.

O súbito interesse do meio político americano no caso Epstein abre uma oportunidade para Maxwell, presa desde 2020, amenizar sua pena ou mesmo ganhar a liberdade. Em abril, ela solicitou à Suprema Corte que julgasse um recurso em seu caso, argumentando que um acordo firmado por promotores federais na Flórida em 2007 impedia um processo criminal. Ela alega que, segundo o acordo, os representantes do governo concordaram em não processar nenhum cúmplice de Epstein.

Contudo, o Departamento de Justiça, em argumentação à Corte, pediu a rejeição do recurso, argumentando que o acordo citado por Maxwell deixou brechas para que ela fosse processada em Nova York — onde foi condenada. As informações são do portal O Globo.

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