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Para tentar chegar ao segundo turno, o presidenciável do PDT, Ciro Gomes, bate no PT mas poupa Lula

Para analistas, posicionamento alterna autenticidade com estratégia. (Foto: Reprodução)

Sabatinado pela imprensa nessa quarta-feira, o candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, deixou claro os caminhos que planeja percorrer, tanto na política quanto na economia, para chegar ao segundo turno.

De acordo com analistas políticos, ele vai buscar os eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao mesmo tempo em que baterá no PT (cujo candidato oficial ao Palácio do Planalto agora é o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad), além de se colocar como o anti-Jair Bolsonaro (PSL), líder nas pesquisas de intenções de voto.

Na economia, Ciro detalhou com franqueza pontos que significam um claro aceno à esquerda, sob uma ótica, ou ao intervencionismo, sob outra. De qualquer forma, um firme contraponto às propostas apresentadas pelo polo formado, nessa área, por Bolsonaro e Geraldo Alckmin (PSDB), mais pró-mercado.

Na política, o malabarismo para defender Lula e criticar o PT simultaneamente pode ser resumido na declaração de que o ex-presidente “está isolado”, o que é “muito dolorido” para Ciro, para chegar à conclusão de que o petista “está cercado de puxa-sacos e perdeu a visão genial que tinha da realidade”.

A toda oportunidade, o pedetista lembrou que foi aliado e amigo de Lula, mas se afastou de todo o resto, em especial de seus “postes”. Para Fernando Haddad, as críticas de que “não conhece o Brasil”. Para a ex-presidenta Dilma Rousseff, as palavras mais duras: “Quando comparam as minhas ideias com as da Dilma, eu fico ofendido”, disse. “Fico ofendido, mesmo.”

Autenticidade ou estratégia

O posicionamento pode ser genuíno, mas é antes de tudo estratégico. Uma análise do diretor do instituto Datafolha, Mauro Paulino, sobre os dados da pesquisa indicou que o maior potencial de crescimento de Ciro é nos redutos lulistas (por isso os elogios ao ex-presidente), mas também em estratos mais de centro, como eleitores de Geraldo Alckmin (daí as críticas ao PT).

Na economia, Ciro foi claro como poucas vezes, e aí suas ideias se tornam muito menos de centro e mais incisivas. Defendeu uma política industrial com incentivos e proteção a alguns setores da economia brasileira, afirmou que o Banco Central será “subordinado” a ele (e repetiu) e prometeu um “pente-fino” nas agências reguladoras, até com o fim de algumas delas.

Depois dessa sabatina, se a tática de Ciro der certo e ele chegar ao Palácio do Planalto, pode-se criticar suas posições. Ninguém, no entanto, poderá alegar desconhecimento sobre elas.

 

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