Após o rompimento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) com o governo, agora foi a vez do PDT anunciar a saída de seus deputados da base aliada.
Em discurso no plenário, na noite desta quarta-feira (5), o líder da bancada na Câmara, André Figueiredo comunicou o rompimento. O partido tem 19 deputados e, desde o início da votação do ajuste fiscal, tem sido acusado pelos governista de ser um dos responsáveis pelas derrotas no plenário.
Conforme o líder da bancada, deputado André Figueiredo (CE), os deputados não vão adotar uma positura oposicionista, mas sim “independente”.
A decisão vem sendo discutida há meses, mas a gota d’água foi o tratamento da liderança do governo à bancada petebista nas discussões da votação da PEC 443, que reajusta salários da AGU (Advocacia Geral da União.
Ontem, após a derrota do governo no plenário, quando não conseguiu adiar a votação da PEC da AGU, o líder do governo, José Guimarães (PT-PE), chamou os integrantes da base que não votaram com o governo de “traidores”.
“Ou é base ou oposição. Tem ministério, mas vota contra o governo no parlamento. Isso não pode existir”, afirmou.
“O clima tem sido tenso. Eu sempre ressalto a disposição ao diálogo, mas o tratamento dado está nos constrangendo”, relatou o líder do PTB. “Somos chamados de infiéis. É uma acusação que temos ouvido de forma infundada”, completou.
No papel, o governo contava com o apoio de 21 partidos (PDT incluso), que somam 364 das 513 cadeiras da Câmara. Na prática, porém, a base de Dilma Rousseff tem se mostrado bem menor e bastante instável.
De acordo com Figueiredo, a decisão de deixar a base já foi comunicada ao presidente do partido, Carlos Lupi, e ao ministro do Trabalho, Manoel Dias.
O deputado relatou que a deliberação foi aprovada por Lupi, que foi ministro do Trabalho e acabou limado da Esplanada dos Ministérios na faxina promovida pela presidente Dilma Rousseff no primeiro ano de mandato, em 2011.
Ainda segundo Andre Figueiredo, Dias teria dito que agora o partido precisa definir os próximos passos. Para isso, a bancada da Câmara se reunirá com os senadores do partido nesta quinta (6).
LÍDER DO PTB DIZ QUE BANCADA ESTÁ ‘DISCUTINDO A RELAÇÃO’
Depois do PDT, também o PTB anunciou rompimento com o governo. O líder da bancada, Jovair Arantes (GO) disse que a bancada está “discutindo a relação com o governo” e que também declara posição de independência.
“Estamos dando um tempo para discutir a relação, fazer uma DR. A gente está segurando a bancada no braço, mas o governo não tem sensibilidade, os ministros não atendem. O governo não considera meus deputados. Não é só cargos, mas é evidente que quem participa do governo tem os ônus e os bônus. Nós estaremos votando contra o governo nos próximos dias”, disse Jovair.
Ao comentar a saída do PDT e do PTB da base e a decisão da maioria dos aliados de votar contra a orientação do Palácio do Planalto na PEC 443, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que a crise na base aliada atingiu seu pico e que agora é preciso refazer a base aliada. Para o líder, é preciso muito diálogo e a construção de uma nova base de apoio com mais fidelidade e maior nitidez política. O líder defendeu que seja feita uma revisão da ocupação de aliados em ministérios do governo Dilma.
“Esse negócio de independência? Prefiro o rompimento. Temos que refazer muita coisa, refazer a base e rever os ministérios que estão na cota desse ou daquele partido. O PTB dialogou comigo, fiquei sabendo pelo líder. O PDT anunciou em plenário. Não vamos polemizar com isso. Precisamos redefinir criteriosamente quem é base ou não. Essa questão da base, atingiu o pico. O ajuste agora é político, temos que refazer. Não me preocupo com o tamanho, mas que a base tenha nitidez política”, referiu Guimarães.
O anúncio feito em plenário pelos líderes do PDT e PTB de que estariam adotando postura de independência em relação ao governo gerou ironias em plenário.
“Vai ficar só o PMDB na base, daqui a pouco sai até o PT”, comentou o deputado Danilo Fortes (PMDB-CE).
(Folha e AG)
