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Petrobras reconhece não ter condições de evitar que Estados Unidos, Rússia e China roubem segredos da empresa

Ex-presidente da estatal chegou a sugerir a demissão de toda a diretoria da empresa. (Foto: Wilton Junior/AE)

A Petrobras admitiu neste ano, em uma das reuniões de seu Conselho de Administração, ser incapaz de proteger seus projetos da espionagem de outros países. No dia 26 de março, ao apresentar medidas de segurança da informação ao Conselho, técnicos da estatal informaram não ter condições de criar sistemas para evitar que Estados Unidos, Rússia e China se apropriem de segredos da empresa.
A estatal foi um dos alvos da agência norte-americana NSA, fator que estremeceu, em 2013, as relações do governo Dilma Rousseff com a Casa Branca. A revelação apareceu em documento vazado pelo ex-analista de inteligência Edward Snowden. Trata-se de uma apresentação, de 2012, feita para ensinar agentes a espionar redes privadas de computador.
O nome da petrobras, maior empresa brasileira, figurava entre os “alvos” de supostas invasões cibernéticas. A crise provocada pela divulgação do documento levou a presidenta Dilma a cancelar, naquele ano, visita oficial aos Estados Unidos e a criticar duramente o governo de Barack Obama na ONU (Organização das Nações Unidas). Apesar da crise, os técnicos da Petrobras deixaram claro ao Conselho de Administração que, passados dois anos, a empresa continua vulnerável.
“Não podemos garantir sigilo em relação aos estados, especialmente Estados Unidos, pela NSA, Rússia, China, porque eles têm sistemas muito poderosos, capazes de ‘by-passar’ qualquer medida de segurança que nós adotemos”, afirmou um deles, destacando que até instalações nucleares do Irã foram “atacadas” pelos norte-americanos.
“Infelizmente, NSA nem pensar. Têm tudo o que querem”, reagiu um dos conselheiros. No áudio da reunião, não fica claro de quem são os comentários. A gravação é uma das 12 feitas nos últimos oito meses e que a Petrobras preservou. A estatal alega que registros anteriores foram destruídos.
A apresentação dos técnicos expôs o temor da cúpula da empresa com vazamentos de informação. Os técnicos descreveram a rotina de criptografar videoconferências e apresentaram equipamentos para fazer varreduras na sala de reuniões, checando se há gravadores atrás de paredes e sob móveis. Em uma delas, foi encontrado um buraco para instalação de escuta em uma das cadeiras, mas, segundo os técnicos, o autor da tentativa não foi descoberto.

Concorrência
A fonte contou que, em sua gestão, o ex-presidente da companhia José Sérgio Gabrielli chegou a monitorar e-mails dos conselheiros para tentar descobrir quem vazava informações da empresa. “Fizemos um monitoramento do serviço de mensagens que estava sendo usado na sala. Detectamos que um diretor abasteceu um repórter”, contou o técnico, sem informar o nome do “vazador” e as providências tomadas a respeito.
A preocupação da Petrobras é de proteger informações estratégicas da cobiça dos concorrentes, como as áreas de potencial exploração de petróleo. Nos áudios, conselheiros indicados pelo governo federal também deixam clara a intenção de manter nas sombras a interferência política do Planalto no dia a dia da estatal do petróleo, além de episódios de resistência a investigações.
Em uma das gravações, de 13 de janeiro, a ex-presidente da Petrobras Graça Foster pede que a ata da reunião omita, por exemplo, que dirigentes do Petros, o fundo de pensões de funcionários da companhia, foram nomeados por indicação do governo, a pedido do ex-ministro Guido Mantega.
Outros conselheiros reclamaram que a prática é contrária as regras de governança da instituição. Graça ainda disse que a cúpula do Petros tentou evitar a investigação de escritórios independentes contratados pela estatal, sobre possíveis irregularidades na gestão do fundo. “Fizemos todo um jogo de xadrez para cair dentro do Petros. O presidente [do fundo] gritava que isso não poderia acontecer, que essa investigação da Petrobras não poderia se estender até a Petros. Foi um ‘retetéu do rototó’”, revelou a executiva, que chegou a pedir que suas declarações ficassem fora da ata.

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