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Pílulas da ressaca sexual evitam o risco de aids após a relação insegura

Tratamento com PEP previne a contaminação por HIV em 99% dos casos. (Crédito: Reprodução)

As pernas tremem continuamente. Lucas (nome fictício) parece não encontrar posição confortável na cadeira. O olhos pulam de um ponto para o outro da sala e se enchem de lágrimas quando ele explica o seu drama: “Eu fui um idiota. Estava bêbado, nem sei como fui parar naquele lugar. Acabei transando com duas prostitutas sem camisinha”, conta o cineasta, de 28 anos, na sala de espera do hospital. Mas ele encontrou alívio em três comprimidos que têm sido chamados de “pílulas do dia seguinte da aids”, ou “pílulas dos 28 dias seguintes”. A medicação previne a contaminação por HIV em 99% dos casos desde que seja tomada até 72 horas depois da situação de risco e ao longo das quatro semanas seguintes.

O nome médico para o tratamento é PEP, sigla para Profilaxia Pós-Exposição. Já existe no Brasil há anos, mas, por muito tempo, ficou restrito a profissionais da saúde que sofreram acidente de trabalho ou a vítimas de violência sexual. Desde 2012, timidamente, passou também a ser ministrada a pessoas que passaram por qualquer situação de risco. Em julho, o Ministério da Saúde anunciou a decisão de facilitar ainda mais o acesso. Conforme o novo protocolo, médicos de qualquer especialidade podem prescrever o remédio, fornecido de graça pelo SUS (Sistema Único de Saúde). A mudança acontece depois de a ONU (Organização das Nações Unidas) publicar um relatório mostrando que, de 2005 a 2013, o número de novas infecções no mundo diminuiu 27,6%, enquanto, no Brasil, aumentou em 11%.

De 2010 a 2014, a quantidade de doses de PEP distribuídas pelo governo saltou de 12 mil para 22 mil. A perspectiva é que esse montante seja bem maior neste ano. O ministério espera que a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) derrube a regra de apenas médicos poderem receitar as pílulas, autorizando qualquer profissional de saúde a prescrevê-las.

Até o fim de 2015, as pílulas devem estar em cerca de 800 hospitais, pronto-socorros e centros especializados do País. E aumentará o número de estabelecimentos 24 horas que oferecem o tratamento – uma medida fundamental, já que, segundo um hospital brasileiro, mais da metade dos pacientes procura a pílula no fim de semana ou na segunda-feira.  “As histórias dos pacientes estão muito ligadas à bebida e à balada”, diz o infectologista Francisco Oliveira.

Deixar de usar o preservativo em relações sexuais não é algo incomum. A PCAP (Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas na População Brasileira), divulgada pelo governo em fevereiro, dá conta de que 45% dos entrevistados afirmam não ter recorrido à camisinha em relações recentes. Entre os jovens de até 30 anos, de acordo com especialistas, esse comportamento de risco é ainda mais frequente.
Cada tratamento de PEP custa cerca de mil reais, bem mais do que um preservativo masculino de látex. O Ministério da Saúde afirma que, ao expandir o acesso, a ideia não é passar a mensagem de que a camisinha pode ser descartada. Justamente pela preocupação de que as pessoas adotassem as pílulas como única forma de prevenção, a discussão no governo levou mais de um ano. “Alguns colegas têm resistência para prescrever o medicamento. O argumento é de que o sujeito se arriscou e, por isso, deveria arcar com as consequências. Mas a PEP deve ser combinada com outros métodos”, destaca o diretor do departamento de DST (doenças sexualmente transmissíveis) do ministério, Fábio Mesquita. “A intenção é facilitar o acesso ao tratamento porque, para a pessoa e para o País, é muito melhor que alguém tome um remédio por 28 dias do que para o resto da vida”, frisa. (AG)

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