Ícone do site Jornal O Sul

Polícia Federal abre investigação sobre espionagem da Abin no governo Bolsonaro. Agência usou software para identificar localização de qualquer pessoa pelo número do celular

Brecha no sistema de telecomunicações permitiria violar a privacidade. (Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil)

A Polícia Federal abriu nesta quinta-feira (16) um inquérito para investigar se a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) monitorou celulares da população durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A investigação está em sigilo e será conduzida pela Diretoria de Inteligência da Polícia Federal.

A ação foi determinada pelo ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), que, no dia anterior, encaminhou ofício à PF pedindo a apuração do caso. “Informo que a investigação sobre espionagem ou sobre mau uso de equipamentos da Abin será procedida pela Polícia Federal”, declarou Dino a jornalistas no Palácio do Planalto.

No dia anterior, o Ministério Público Federal também abriu uma investigação sobre o caso.

A Abin confirmou, em nota, o uso do software para monitorar a localização de qualquer pessoa por meio do número de celular e que esse programa foi contratado de dezembro de 2018 a maio de 2021. Também declarou que o órgão está em processo de aperfeiçoamento, “de acordo com o interesse público e o Estado Democrático de Direito”.

Entenda o caso

A Abin utilizou durante quase quatro anos um sistema secreto para monitorar até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses. Chamada “FirstMile”, a ferramenta solicitava que fosse digitado o número do contato e, a partir disso, poderia ser acompanhado em um mapa, com as redes 2G, 3G e 4G, a última localização do dono do aparelho.

O programa permitia que fosse rastreado o paradeiro de alguém com os dados que eram transferidos do celular para torres de telecomunicações instaladas em diferentes regiões. Com essas informações, era possível ver o histórico de deslocamentos e criar “alertas em tempo real” de movimentações em diferentes endereços.

A Abin explicou que “o contrato 567/2018, de caráter sigiloso, teve início em 26 de dezembro de 2018 e foi encerrado em 8 de maio de 2021”. Ele foi adquirido durante o governo de Michel Temer (MDB), por R$ 5,7 milhões, sem necessidade de licitação.

Denúncia na ONU

O ex-presidente da República Jair Bolsonaro foi denunciado na Organização das Nações Unidas (ONU), durante a 52ª sessão do Conselho de Direitos Humanos, pelo uso desordenado de tecnologias digitais e sistemas de monitoramento no período da pandemia de covid. As organizações não governamentais (ONGs) Conectas, Artigo 19, Data Privacy Brasil e Transparência Internacional Brasil, responsáveis pela denúncia, pediram à ONU que questione o Brasil sobre o uso dessas tecnologias e o tratamento dos dados coletados durante a pandemia.

Segundo o documento apresentado na ONU, entre 2020 e 2022 foram utilizadas tecnologias digitais para a coleta de dados biométricos, de geolocalização e informações de saúde da população sem a devida transparência e participação da sociedade civil.

Sair da versão mobile