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Polícia Federal afirma que Bolsonaro recebeu R$ 30 milhões em um ano

As movimentações de Bolsonaro estão sob suspeitas devido a omissão dos repasses para Eduardo, o filho 01. (Foto: Marcos Corrêa/PR)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu cerca de R$ 30 milhões em suas contas bancárias entre março de 2023 e fevereiro de 2024, aponta uma análise da Polícia Federal juntada ao inquérito sobre as suspeitas de obstrução do julgamento da trama golpista.

A análise se baseia em informações levantadas pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) nas movimentações financeiras do ex-presidente. O órgão diz que há suspeitas de indícios de lavagem de dinheiro e de outros ilícitos penais por parte do ex-presidente e de seu filho Eduardo.

Procurada, a defesa não comentou a análise da PF. Em relação ao indiciamento, afirmou nessa quinta-feira (21) que recebeu a notícia com surpresa e que “jamais houve o descumprimento de qualquer medida cautelar previamente imposta” pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Já Eduardo Bolsonaro classificou, em nota na noite de quarta-feira (20), de “crime absolutamente delirante” os apontamentos da PF que resultaram no indiciamento.

Segundo a análise da PF, Bolsonaro foi identificado como parte envolvida em comunicações reportadas por unidades de inteligência financeira ao Coaf.

Ainda de acordo com o texto, as operações financeiras com suspeitas de “lavagem de dinheiro e outros ilícitos” nas contas de Bolsonaro ocorreram entre 1 de março de 2023 e 05 de junho de 2025. Entre 1 de março de 2023 e 7 de fevereiro de 2024, teriam sido movimentados R$ 30.576.801,36 em créditos e R$ 30.595.430,71 em débitos nessas contas.

O documento registra o recebimento, via Pix, de R$ 19,3 milhões, em 1.214.254 lançamentos no período —o que representa mais de 60% do valor recebido por Bolsonaro. Em meados de 2023, aliados fizeram uma campanha para arrecadar dinheiro para Bolsonaro pagar multas e advogados, o que gerou uma onda de doações por Pix. O relatório da PF só relata os recebimentos mas não cita a campanha.

O PL, partido do ex-presidente, aparece como o principal pagador no período, com R$ 291 mil transferidos a Bolsonaro. Já os maiores gastos foram feitos aos seus advogados, no valor de R$ 6,8 milhões.

A PF afirma que foram analisadas 50 comunicações de operações financeiras que envolvem pessoas relacionadas às investigações da trama golpista. Dessas comunicações, quatro tratam de suspeitas relacionadas a Bolsonaro, e quatro, a Eduardo Bolsonaro.

Foram analisadas ainda outras transações feitas pelo ex-presidente e por seu filho. O documento da investigação cita, por exemplo, que Bolsonaro transferiu R$ 2 milhões a Eduardo em 13 de maio de 2025, como foi informado pelo próprio presidente em depoimento. No entanto, também afirma que foram remetidos R$ 30 mil em março e R$ 40 mil em abril, quando Eduardo já estava nos EUA —de acordo com o texto, ele chegou ao país em 27 de fevereiro.

Em relação ao Bolsonaro, a PF diz que “chama atenção o volume de operações de câmbio realizadas ao longo do período analisado, que totalizaram R$ 105.905,54, especialmente considerando que o ex-presidente está com o passaporte retido e proibido de deixar o país”.

Conta das esposas

A análise policial ainda ressalta a transferência de R$ 2 milhões de Bolsonaro à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro em 4 de junho deste ano, um dia antes de ele prestar depoimento na investigação. A PF entende que ele fez a transferência para a conta de sua esposa para evitar bloqueios de recursos.

O relatório da PF que embasou o indiciamento diz que também Eduardo usou conta de sua esposa para evitar bloqueios de recursos.

Segundo a investigação, o deputado fez dois repasses para Heloísa Bolsonaro “como forma de escamotear” os valores antes encaminhados a ele pelo pai.

Para a PF, a análise das transações aponta que Bolsonaro e Eduardo utilizaram “diversos artifícios para dissimular a origem e o destino de recursos financeiros, com o intuito de financiamento e suporte das atividades de natureza ilícita do parlamentar licenciado no exterior”.

Em depoimento à polícia, Bolsonaro disse que as transferências a Eduardo foram abastecidas por campanhas de doação feitas por apoiadores do ex-presidente.

A investigação também afirma que Bolsonaro realizou 40 transações de janeiro a julho de 2025, entre saques em caixas eletrônicos e atendimento presencial em guichê bancário.

“No total, foram contabilizados R$ 130.800,00. Não se ignora a eventual necessidade do ex-presidente em realizar despesas de pequeno vulto, sobretudo durante deslocamentos e viagens realizadas ao longo de agendas públicas. Entretanto, o grande volume de transações em dinheiro físico é indício relevante no contexto probatório, considerando os riscos associados à falta de rastreabilidade e a possibilidade de financiamento de ações de caráter ilícito”, disse a PF.

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