Há alguns meses, jornalistas que cobrem as coletivas do presidente da República, Jair Bolsonaro, reclamam de ofensas e ataques de apoiadores do político, no Palácio da Alvorada, em Brasília. Agora, com relatos de diminuição da segurança, a Globo, a Folha de São Paulo e o Metrópoles deixarão de enviar jornalistas ao local. A suspensão é temporária, até que providências sejam tomadas. Conforme o portal UOL, o grupo Bandeirantes também interromperá as coberturas no Alvorada.
As informações são do site Coletiva.net.
Os profissionais da imprensa presentes na sede do governo federal, na segunda-feira (25), relataram que, ao passar pelos jornalistas, Bolsonaro disse: “No dia que vocês tiverem compromisso com a verdade, eu falo com vocês de novo”. Na sequência do ato do presidente, os militantes teriam gritado xingamentos como “lixo”, “escória”, “ratazanas” e “imprensa podre”. Após, parte do grupo teria quase invadido o espaço da imprensa, que é dividido do setor destinado ao público apenas uma grade. Relatos apontam que a segurança do Alvorada não tentou impedi-los.
O próprio presidente já proferiu xingamentos aos profissionais da imprensa. Já foram registrados momentos de hostilidade como quando Bolsonaro disse aos jornalistas “calem a boca”, quando afirmou, fazendo um trocadilho sexual, que a repórter da Folha, Patrícia Campos Mello “queria dar o furo a qualquer preço” ou quando levou um humorista ao Alvorada para oferecer bananas aos repórteres.
Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) apoiou a decisão dos veículos de comunicação e disse ter solicitado proteção aos jornalistas por parte do governo do Distrito Federal.
GSI
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) divulgou uma nota nesta terça-feira (26) dizendo que já adotou as “medidas necessárias e suficientes” para garantir a segurança dos jornalistas que atuam no Palácio da Alvorada e que “criou as melhores condições possíveis”. A nota foi divulgada após diversos veículos de comunicação, entre eles o Grupo Globo, decidirem deixar de fazer plantão no local, por considerarem que não há garantia de segurança.
Na nota, o GSI cita quatro medidas: separação física, por meio de grades, das áreas destinadas ao público em geral e aos repórteres; registro e inspeção de todos os presentes, inclusive com passagem por detector de metal; orientação quanto à utilização de equipamentos de proteção individual (EPI) e manutenção de distanciamento; e alocação de efetivo de agentes de segurança “condizente com o público presente”.
A “separação física” citada pelo GSI, no entanto, ocorre apenas no local onde há contato com o presidente Jair Bolsonaro. A entrada e a saída são comuns aos dois grupos, o que facilita hostilidades. Recentemente, por exemplo, uma pessoa tentou entrar na área reservada aos jornalistas e teve que ser impedida por um segurança.
As medidas adotadas até agora não foram suficientes para impedir ofensas constantes dos apoiadores. Na segunda-feira, por exemplo, após Bolsonaro deixar o Alvorada, um grupo começou a xingar os repórteres na grade que separa os apoiadores dos profissionais de imprensa.
Além disso, apesar do GSI dizer que recomenda o distanciamento, diariamente ocorrem aglomerações entre os apoiadores do presidente, sem qualquer reprimenda.
Na nota, o ministério afirmou que “algumas medidas mais restritivas deixaram de ser tomadas, sem sério prejuízo para a segurança, em atendimento à solicitação de integrantes da imprensa, que viram, nestas medidas, óbices ao exercício de suas atividades laborais”.
O GSI não apontou, no entanto, quais foram essas medidas que deixaram de ser tomadas e quem fez o pedido. Questionado sobre quais seriam as medidas, a assessoria do ministério afirmou que não comenta detalhes da segurança presidencial.
“O GSI entende e respeita os princípios de liberdade de expressão garantidos pela legislação vigente. Assim sendo, criou as melhores condições possíveis para o trabalho dos profissionais de imprensa e, também, um espaço reservado aos apoiadores do Presidente. Continuaremos aperfeiçoando esse dispositivo, para que o local permaneça em condições de atender às expectativas de trabalho e de livre manifestação dos públicos distintos que, diariamente, comparecem ao Palácio da Alvorada”, conclui o texto.
