O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira (B3), mergulhou em um dia de fortes perdas nessa sexta-feira (5), em um nível de desvalorização diária não visto desde 22 de fevereiro de 2021. Ao fim do dia, o Ibovespa, que chegou a renovar a máxima histórica intradiária, acima dos 165 mil pontos, viu evaporar quase oito mil pontos do seu indicador, numa queda de 4,31%, aos 157.369 pontos.
A notícia de que o ex-presidente Jair Bolsonaro, que cumpre pena na sede da Polícia Federal em Brasília por tentativa de golpe de Estado, vai apadrinhar seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), para tentar a cadeira do Palácio do Planalto no ano que vem azedou o mercado.
Mas o que fez os investidores a ter tamanha reação negativa? A notícia, antecipada pelo portal Metrópoles às 12h46min, fez o Ibovespa, que atingiu sua máxima histórica intradiária exatamente um minuto antes da divulgação, às 12h45min, mergulhar numa aversão ao risco só vista antes há mais de quatro anos.
As empresas que compõem o índice viram evaporar R$ 168,85 bilhões em valor de mercado.
Analistas foram unânimes: a sensibilidade dos indicadores ao anúncio da bênção do ex-presidente ao filho se deve à possível perda de competitividade no campo da direita, que é vista como importante para o encaminhamento de reformas estruturais necessárias para reverter a atual dinâmica da trajetória da dívida pública.
“Essa volatilidade grande, com os indicadores mexendo de forma tão sensível, reflete um receio de manter uma agenda de polarização partidária e isso eventualmente atrapalhar a agenda de reformas que o Brasil precisa”, disse Felipe Tavares, economista-chefe da BGC Liquidez.
A explicação para a leitura de aversão ao risco, segundo Luiz Fernando Figueiredo, ex-diretor do Banco Central e presidente do conselho de administração da gestora JiveMauá, é de que a escolha de Flávio diminui a competitividade no pleito em que a alternância de poder é vista pelo mercado como necessária para realizar os ajustes na condução dos gastos:
“Não é questão de ideologia, mas, quando se olha a dívida, ela sobe quatro pontos (em relação ao) PIB por ano. Se tem como consenso que em 2027 é a hora da verdade, será preciso fazer um baita ajuste para gerar alguma sustentabilidade da dívida, que é insustentável.”
Para Tavares, da BGC, a alternância de poder tende a promover as reformas que não foram realizadas pelo atual governo. “Criou-se a certeza de que a responsabilidade fiscal e a agenda de reformas não seria a prioridade do governo atual, do lado fiscalista. Essa resolução não foi prioridade e não foi rol de um arcabouço da linha que o PT seguiria. Nessa perspectiva, uma alternância seria positiva”, afirma.
O nome de Flávio, afirmam analistas, tende a frear a competitividade do campo: “Uma eleição de segundo turno é, sobretudo, uma eleição de menor rejeição. A informação das pesquisas é que o sobrenome Bolsonaro carrega uma rejeição muito grande. Nesse sentido, reduz a chance de alternância de poder”, afirmou Rafael Ihara, economista-chefe da Meraki Capital.
A análise é semelhante a de Felipe Arslan, que chefia a gestora Morada Capital: “Nos parece razoável afirmar que Lula tende a sair fortalecido, dado que o índice de rejeição da família Bolsonaro é significativamente maior do que o do atual presidente. Por isso, o mercado ativou o ‘modo stop’” afirmou ele sobre a desvalorização do indicador nessa sexta-feira.
Relatório do banco americano J.P.Morgan afirma que as eleições de 2026 serão essenciais para os rumos macroeconômicos no Brasil. Em relatório divulgado na última terça-feira, o banco também enxerga a alternância como um fator importante para reverter a atual trajetória da dívida pública:
“os gastos aumentaram cerca de 20% desde o início do atual governo, e a relação dívida/PIB explodiu em mais de 10 pontos percentuais, chegando agora a quase 80%, uma das mais altas entre os emergentes”, afirma trecho do documento, que vê o pleito com “o potencial de realinhar a política macroeconômica, permitindo que o Brasil se torne um mercado mais fundamental”, afirma trecho do relatório.
O J.P.Morgan afirma que, em caso de alternância, o principal índice da Bolsa, alimentado também por outros fatores, poderia alcançar os 230 mil pontos até o fim do ano que vem, uma valorização de 40% na comparação com o fechamento de quinta-feira. Mas, em eventual continuidade, o banco vê o índice retornando aos 120 mil pontos, uma desvalorização de 27%.
Nessa sexta-feira, todos os setores da Bolsa registraram queda, mas as empresas voltadas ao consumo cíclico foram mais prejudicadas. A Yduqs, dona da Estácio, recuou 10,84%, liderando a ponta negativa do índice, valendo R$ 10,84, enquanto a marca de vestuário Azzas, dona de Hering e Arezzo, perdeu 9,96%, aos R$ 25,67.
Os bancos também registraram perdas relevantes: o Banco do Brasil cedeu 7,07%, aos R$ 21,16, enquanto o Bradesco desvalorizou 5,97% nos papéis preferenciais, aos R$ 18,12. O Itaú cedeu 4,62%, aos R$ 41,26, enquanto as units do BTG Pactual recuaram 7,91%, aos R$ 52,42.
Maiores empresas do índice, Petrobras e Vale também caíram, com a mineradora perdendo 2,36%, aos R$ 70,22, e a petrolífera recuando 3,54% em seus papéis preferenciais, aos R$ 31,37. As informações são do jornal O Globo.
