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Por que atrasar a segunda dose da vacina de coronavírus pode não ser uma boa ideia

Pesquisador avalia os riscos da estratégia considerada por autoridades de saúde nos Estados Unidos, no Reino Unido (e inclusive no Brasil). (Foto: Ministério da Saúde)

As farmacêuticas estão enfrentando desafios na fabricação de imunizantes e na construção de cadeias de abastecimento para atender à demanda por vacinas de Covid-19. A Pfizer até mesmo reduziu as metas de produção. A escassez de vacinas levou a pedidos de uma estratégia semelhante a um curativo para esticar o suprimento precário.

Para proteger o maior número possível de pessoas contra a Covid-19, autoridades médicas do Reino Unido optaram por priorizar a distribuição de uma primeira dose de vacina para o maior número possível de pessoas — atrasando as segundas doses da vacina da Pfizer/BioNTech para 12 semanas das 3-4 recomendadas. O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, deseja liberar todas as doses da vacina para acelerar o programa de vacinação — mas o risco é que os fabricantes de vacinas não consigam reabastecer o fornecimento para garantir que a segunda dose seja entregue a tempo.

Essas decisões abriram uma divisão entre os especialistas porque alguns apoiam dar uma única dose de vacina para o maior número possível de pessoas, enquanto outros querem vacinar de acordo com o protocolo usado durante os testes clínicos. Nos EUA, apenas cerca de um décimo das 300 milhões de doses prometidas em janeiro na Operação Warp Speed estão realmente disponíveis. No entanto, a Food and Drug Administration [FDA] lembrou a comunidade médica da importância de receber ambas as doses das vacinas de Covid-19 de acordo com a forma como foram testadas em ensaios clínicos. A FDA diz que não há dados que demonstrem a eficácia da vacina se a segunda dose for adiada.

Alterar as doses de vacina parece uma solução fácil para esticar os suprimentos limitados e fornecer vacinas para populações mais vulneráveis. Mas é a coisa certa a fazer?

Ambas as vacinas de mRNA, mesmo após a primeira dose, oferecem proteção bem acima do limite mínimo de 50% definido para os critérios de autorização de uso de emergência para vacinas de Covid-19 com base nos ensaios clínicos. Mas a eficácia dessas vacinas foi testada em um regime de duas doses.

Durante o ensaio da vacina da Pfizer-BioNTech, um participante vacinado e nove que receberam um placebo desenvolveram casos graves de Covid-19 após a primeira dose. Isso sugere que os participantes desenvolveram proteção parcial 12 dias após a primeira dose. No entanto, todos os que receberam a vacina acabaram tomando a segunda dose apenas nove dias depois, de modo que não existem dados sobre quanto tempo duraria a proteção da dose única.

Da mesma forma, para o ensaio da vacina da Moderna, parecia haver alguma proteção contra Covid-19 após uma dose; mas os dados limitados não fornecem informações suficientes sobre a proteção de longo prazo além de 28 dias após a dose única.

Na ausência de evidências de apoio, nada definitivo pode ser concluído sobre a profundidade ou a duração da proteção após apenas uma única dose das vacinas atualmente autorizadas, ou escolher entre os intervalos estudados e outros mais longos entre as doses.

Embora a eficácia das vacinas de mRNA contra Covid-19 sintomática tenha superado as expectativas, os pesquisadores ainda não sabem quanto tempo dura essa proteção. No acompanhamento do ensaio de fase 1 da vacina da Moderna, durante os 119 dias após a primeira dose, os anticorpos diminuíram em todos os participantes, e os anticorpos neutralizantes — que não apenas se ligam ao vírus, mas também bloqueiam a infecção — caíram de 50% a 75% nas pessoas com mais de 56 anos.

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