Ícone do site Jornal O Sul

Saiba por que lojas da China enviam “sementes misteriosas” ao Brasil

De acordo com o Ministério da Agricultura, quase 34 mil pacotes com sementes e outros itens foram interceptados no primeiro semestre deste ano. (Foto: Divulgação)

Pacotes com sementes misteriosas têm chegado ao Brasil sozinhos ou acompanhados de outros produtos adquiridos em e-commerces chineses. Ao menos 258 casos de recebimentos não solicitados foram registrados em 24 estados brasileiros, mostra um recente levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

A prática ganhou repercussão nos últimos dias e gerou um alerta para o risco de contaminação. Ainda não sabe o motivo pelo qual essas sementes têm chegado aos lares brasileiros, entretanto, autoridades já trabalham com a possibilidade de a prática fazer parte de um esquema fraudulento conhecido como brushing.

Funciona assim: um lojista de marketplace obtém muitas vezes de forma ilegal seus dados pessoais. Com essas informações em mãos, eles realizam compras falsas em seu nome e fazem o envio de sementes ou objetos de pouco valor. O objetivo deles é aumentar a reputação dentro de gigantes do comércio eletrônico, como Amazon, Alibaba, Ebay, entre outros, e, assim, ganhar mais visibilidade com novos clientes.

Ao enviar o produto, as lojas possuem o código de rastreio. Quando o suposto item consta como entregue ao destinatário, o lojista, então, faz a avaliação positiva e a empresa responsável pelo marketplace entende que está tudo certo.

Ainda há outras variações envolvidas como enviar um produto adicional ao que o comprador pediu com o objetivo de obter uma melhor avaliação”, diz Arthur Igreja, professor convidado da FGV e especialista em Inovação e Tecnologia, em entrevista ao site Tecnoblog.

Um ponto negativo envolve consumidores que não pediram os produtos e estão recebendo. E é isso que está acontecendo no Brasil. Isso pode evidenciar um vazamento de dados, pois é possível conseguir endereço, nome completo e e-mail dos consumidores.”

As fraudes de brushing ganharam repercussão em 2015, quando o jornal norte-americano Wall Street Journal denunciou a ilegalidade dentro da gigante chinesa Alibaba.

No entanto, essa prática não surgiu recentemente. “Brushing existe há pelo menos 18 anos”, explica Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética (Abraseci), ao Tecnoblog.

As técnicas de brushing vêm se atualizando, conforme os mecanismos de avaliação de lojistas avançam, buscando evitar novas fraudes: eleva-se o patamar de antifraude, e logo os fraudadores também elevam suas estratégias. É como neste mais recente caso das sementes, que, pelo baixo custo, peso e volume, conseguem oferecer uma boa versatilidade de postagem para que os lojistas fraudadores possam cumprir as exigências dos marketplaces.”

De acordo com o Ministério da Agricultura, quase 34 mil pacotes com sementes e outros itens foram interceptados no primeiro semestre deste ano. A pasta fala em 26.111 destruições, 2.383 devoluções/retornos ao remetente e 5.240 liberações.

Durante esse período em que sementes misteriosas ganharam ainda mais destaque no Brasil, um levantamento feito pelas autoridades brasileiras mostra que Santa Catarina é o estado com o maior número de casos (39), em seguida aparecem o Rio Grande do Sul (32), Paraná (32), Rio de Janeiro (28) e Goiás (18).

Além do Brasil, casos foram reportados nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Portugal.

As autoridades locais não recomendam o plantio dessas sementes nem o descarte no lixo comum. Caso receba pacotes com sementes, o consumidor deve encaminhá-los imediatamente ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ou em uma entidade estadual de agricultura.

Para evitar que os seus dados vazem na internet, é importante que o consumidor utilize sites confiáveis e não forneça os seus dados para qualquer site ou aplicativo, ou formulário eletrônico, mantendo assim o controle das suas informações. Caso seja possível identificar a plataforma responsável pela intermediação da compra realizada pelo praticante do brushing, é possível notificar essa plataforma e solicitar a exclusão de seus dados”, orienta Alan Thomaz, advogado especialista em Direito Digital. As informações são do site Tecnoblog.

 

Sair da versão mobile