Flávio Bolsonaro passou os últimos dias negando que será candidato a presidente em 2026. “Meu nome não está na mesa”, disse para jornalistas, obedecendo ao script que o pai deseja para este momento em que acaba de começar a cumprir a pena de 27 anos e três meses pela condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) na trama golpista.
Em conversas privadas, contudo, o tom já é outro. Desde a semana passada, quando o irmão Eduardo passou a chamá-lo de presidenciável em lives na internet, o senador começou a falar abertamente sobre a possibilidade. A um interlocutor próximo, afirmou que “se o pai quiser, vai para o sacrifício” da candidatura ao Planalto.
Por que ser candidato a presidente seria um “sacrifício” para Flávio, como ele mesmo define a hipótese que voltou a circular desde sábado? O seu entorno aponta os seguintes argumentos: 1) o senador abandonaria uma reeleição certa no Rio para uma campanha de resultado incerto contra Lula; 2) durante uma campanha presidencial, haveria a volta de um noticiário enrolado envolvendo rachadinha, as operações financeiras da sua loja de chocolates e a compra da mansão milionária em Brasília; 3) a memória ainda viva na sua mente de como foi complexa a campanha para prefeito do Rio, em 2016, a única em que um membro da família sem ser Jair Bolsonaro tentou. O pai se meteu na campanha do início ao fim, fato este simbolizado no dia em que impediu a médica e então candidata Jandira Feghali de atender Flávio passando mal em um debate só porque a deputada era filiada ao PCdoB.
Então, por que Flávio deixou a mosca azul picá-lo e vê com bons olhos o voo ao Planalto? O seu entorno também tem as respostas. 1) Mais importante do que se reeleger senador pelo Rio é assumir o espólio do pai como grande líder da direita brasileira, ainda que seja após uma derrota para Lula. 2) Ao longo do governo do pai, Flávio conseguiu derrubar as investigações envolvendo o seu nome no Judiciário e poderia usar este atestado de idoneidade contra os possíveis ataques do PT na campanha. 3) O Flávio de 2025 não é o mesmo de 2016 – ele mudou de patamar seja na conexão com políticos do Centrão, seja a partir de uma habilidade maior em se comunicar. Além disso, o pai preso teria menos possibilidade de dar pitacos no andamento da campanha.
No tema dosimetria, as falas do Flávio dos bastidores também é muito diferente do Flávio das declarações para a imprensa. Embora insista no tema da anistia quando dá entrevistas, o senador já admite que o melhor caminho para a direita é o de apoiar o PL da dosimetria relatado pelo deputado Paulinho da Força. Pelo texto que está sendo articulado, as penas de Bolsonaro seriam reduzidas de 7 a 11 anos, e o período em regime fechado para cerca de dois anos. (Análise de Thiago Prado, do jornal O Globo)
