O mercado de postos de combustível ainda não espera um corte do preço da gasolina e do diesel no Brasil, mesmo após a forte queda na cotação internacional do petróleo deste domingo (8).
Paulo Miranda, presidente da Fecombustíveis, disse ser mais provável que a Petrobras siga o roteiro adotado em setembro, quando um ataque de drones afetou a produção da Arábia Saudita. Na ocasião,a estatal esperou passar o momento de maior volatilidade antes de reajustar os preços.
“Como empresário, acho que uma diminuição seria boa. Estamos em ano de perspectiva de aumento de PIB ruim e isso ajudaria a melhorar a situação. Mas acho difícil isso acontecer no curto prazo”, disse.
Entenda abaixo as razões que explicam a queda dos preços do barril e os impactos na economia global e no Brasil:
Arábia Saudita
A Arábia Saudita, maior exportadora de petróleo do mundo, decidiu adotar o maior corte dos preços do barril em 20 anos, o que detonou uma tempestade nos mercados. O país sinalizou também que elevará a produção para ganhar participação no mercado, que já está com sobreoferta devido aos efeitos do coronavírus sobre a demanda.
Além de cortar o preço, a Arábia Saudita anunciou planos de aumentar a produção acima de 10 milhões de barris por dia (bpd) em abril, depois que a Rússia se recusou a aderir a cortes adicionais de oferta propostos pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para estabilizar os mercados da commodity.
Fracasso
A decisão da Arábia Saudita de reduzir o preço e aumentar a produção vem na esteira do fracasso das negociações entre Opep e a Rússia, que é o 3º maior produtor mundial e se opôs à proposta de cortes mais profundos na produção sugeridos pelos países do grupo para estabilizar os preços do petróleo. Como resposta ao governo da Rússia, a Opep removeu todos os seus limites de extração da commodity.
O fracasso nas negociações fez a cotação do petróleo cair 10% na última sexta-feira (6), a maior queda diária em mais de 11 ano.
Guerra de preços
Após se opor à proposta de cortar a produção, a Rússia aumentou a aposta, ao dizer nesta segunda-feira que o país poderia suportar preços do petróleo de entre US$ 25 e US$ 30 o barril por um período de entre seis e dez anos. O governo russo disse que poderia utilizar recursos do Fundo Nacional de Riqueza do país para assegurar a estabilidade macroeconômica se os preços baixos durarem por muito tempo.
Sem um acordo, a queda de braço entre os grandes produtores será vencida pelo país mais resistente. A Arábia Saudita tem reservas significativas e extrai seu petróleo a custos que desafiam qualquer concorrência – apenas US$ 2,80 por barril -, o que garante margens confortáveis.
Mas, com uma economia mais diversificada, a Rússia se coloca como um importante rival. “A Rússia está em uma posição financeira muito melhor para resistir a uma guerra de preços do petróleo; possui reservas financeiras com US$ 80 bilhões a mais do que as da Arábia Saudita”, de acordo comm Chris Weafer, da Macro Advisory.
Pânico generalizado
O forte tombo nos preços do petróleo trouxe um ingrediente adicional de nervosismo para os mercados globais, que já vinham operando com estresse em razão do temor de uma recessão global.
“O avanço do coronavírus trouxe pânico para o mercado de petróleo”, diz o sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. “O preço do petróleo nesse patamar deve provocar um estrago nas economias. O tamanho desse estrago vai depender por quanto tempo os preços ficarão nesse patamar.”
Com o derretimento generalizado das bolsas, os mercados passaram a temer uma crise da economia real, à medida que a epidemia de coronavírus afeta as cadeias de produção de todo o planeta, obriga o cancelamento de voos e de eventos profissionais e provoca a queda do turismo.
Impactos
Segundo analistas, o colapso dos preços terá consequências significativas, desde a erosão da renda das economias dependentes de energia até a deflação global, através de uma desaceleração nos projetos de exploração de petróleo. Também pode ser particularmente devastador para os países do Golfo, que representam um quinto da oferta mundial de petróleo e onde entre 70 e 90% da receita pública depende do petróleo.
Uma guerra de preços também pode afetar os produtores americanos de petróleo de xisto. Muitas petroleiras americanas estão altamente endividadas. Dezenas delas fecharam as portas nos últimos anos, enquanto outras estão reduzindo seu pessoal.
