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Preço do barril de petróleo passa de 70 dólares, mas a Petrobras mantém preços inalterados há 40 dias

Cerca de 89.000 barris por dia de gasolina e diesel indianos chegaram à região de Nova York este mês. (Foto: Reprodução)

O preço do barril de petróleo ultrapassou nesta semana o patamar de US$ 70, nível que não era visto desde maio de 2019. E, segundo analistas, tudo indica que pode chegar aos US$ 80 ainda este ano, por causa da retomada global. O avanço, porém, não tem sido repassado pela Petrobrás para os preços dos combustíveis. O último reajuste da gasolina e do óleo diesel da estatal foi em 1.º de maio, há 40 dias – e, mesmo assim, as revisões foram para reduzir os preços em cerca de 2%.

A explicação é que a valorização do real em relação ao dólar nas últimas semanas está ajudando a Petrobrás a manter os preços inalterados em suas refinarias. Para definir o valor dos seus produtos, a empresa considera as cotações do dólar e do petróleo internacional, além dos custos logísticos de importação. Assim, equipara seus preços aos dos concorrentes, que trazem combustíveis de outros mercados para competir com a estatal no Brasil. Mesmo assim, com a escalada da cotação da commodity nos últimos dias, novos aumentos serão inevitáveis, segundo especialistas.

Em Londres, o petróleo do tipo Brent, usado como parâmetro pela estatal para ajustar os preços internos dos derivados, chegou a ser negociado a US$ 20 no ano passado, como reflexo das medidas de isolamento social motivadas pela pandemia do coronavírus. Nesta semana, diante da retomada econômica gradual nos Estados Unidos e Europa, o barril superou o patamar de US$ 70.

A última alteração nos preços da Petrobrás se deu um pouco após a posse do general Joaquim Silva e Luna, que substituiu o ex-presidente Roberto Castello Branco, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro por promover “aumentos excessivos” dos combustíveis. Em 1.º de maio, o barril do petróleo estava cotado a US$ 67 e na quarta-feira, 9, fechou o pregão negociado a US$ 71. Houve, portanto, uma alta de 6%. Nesse período, o dólar passou da casa dos R$ 5,40 para algo mais perto dos R$ 5.

“A alta do preço do petróleo está calcada na expectativa de retomada econômica. Os Estados Unidos estão com um espraiamento maior da vacinação e isso aumenta agora com o verão no hemisfério norte, quando as pessoas se locomovam mais. Mas temos que lembrar que os fundamentos do mercado, de oferta e demanda, estão artificialmente controlados pelos cortes de produção da Opep”, observou a professora e assessora estratégica da Fundação Getúlio Vargas Energia (FGV) Fernanda Delgado.

Reagindo à redução de demanda trazida pela pandemia de covid-19, somente a Arábia Saudita cortou cerca de 1 milhão de barris diários da sua produção de 12 milhões de barris, fora os cortes dos outros produtores como Rússia, Nigéria e México, que no total chegaram a quase 10 milhões de barris diários. O Irã e o Iraque, por sua vez, já anunciaram que vão aumentar sua produção para níveis pré-coronavírus.

Para Fernanda Delgado, a Petrobrás, em algum momento, vai alinhar seus preços ao mercado internacional. Mas a pesquisadora destaca que a empresa já avisou que os prazos para os reajustes vão ser mais longos na nova gestão. Um mês após a posse do general Luna, a estatal comunicou que não teria uma frequência definida de ajustes. O seu antecessor revisava os valores em intervalos de dez a 15 dias.

A ausência de ajustes da Petrobrás poderia ajudar os importadores brasileiros a aumentar a fatia no mercado nacional de combustíveis e trazer maior concorrência para o mercado, reduzindo os preços internos, mas, de acordo com o presidente da Associação dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, isso não está acontecendo. Em abril, a estatal foi responsável por 48% das importações de diesel e, em maio, o resultado deverá ser semelhante.

Petrobrás 

A Petrobrás afirmou em nota que não houve alteração na política de preços, e que monitora permanentemente o mercado. “A partir de uma percepção de realinhamento de patamar, seja de câmbio, seja de cotações internacionais de petróleo e derivados, a empresa realiza reajustes de preço. Os estudos e monitoramentos elaborados pelas áreas técnicas de comercialização da Petrobrás suportam a tomada de decisão e a proposição de reajustes de preço, sendo observado permanentemente o ambiente de negócios e o comportamento dos seus competidores, visando a um posicionamento competitivo adequado”, concluiu.

 

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