O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina 2025 foi concedido nesta segunda-feira a três cientistas que revelaram como o sistema imunológico mantém o equilíbrio necessário para não atacar o próprio corpo. As descobertas abriram caminhos para novos tratamentos contra o câncer, doenças autoimunes e complicações em transplantes de órgãos. Mais de 200 estudos clínicos já investigam terapias baseadas nesse mecanismo.
O trio identificou as chamadas células T reguladoras — os “guardas de segurança” do sistema imunológico — responsáveis por impedir que outras células de defesa ataquem tecidos saudáveis. “Essas descobertas foram decisivas para entender por que nem todos nós desenvolvemos doenças autoimunes graves”, afirmou Olle Kämpe, presidente do Comitê Nobel.
Diariamente, o sistema imune combate microrganismos invasores. No entanto, alguns patógenos conseguem se camuflar, tornando difícil a distinção entre células do corpo e agentes externos. Quando essa diferenciação falha, surgem doenças autoimunes, como o diabetes tipo 1 e o lúpus.
Nos anos 1980, cientistas descobriram que as células T passam por um processo de maturação no timo, onde aquelas defeituosas são eliminadas — a chamada tolerância imune central. Mas o imunologista Shimon Sakaguchi, da Universidade de Osaka, notou que camundongos sem timo ainda conseguiam evitar doenças autoimunes. Em 1995, ele identificou outro mecanismo de defesa, formado por células T reguladoras, e o denominou tolerância imune periférica.
Em 2001, os pesquisadores Mary Brunkow e Fred Ramsdell, do Instituto de Biologia de Sistemas (Seattle) e da Sonoma Biotherapeutics (São Francisco), descobriram que uma mutação no gene Foxp3 era fundamental para o desenvolvimento dessas células.
Desde então, cientistas têm explorado essas descobertas para desenvolver tratamentos que possam modular o sistema imunológico. O objetivo é combater o câncer, tratar doenças autoimunes e reduzir rejeições em transplantes. O prêmio será dividido entre os três pesquisadores, que receberão 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões).
Impacto no tratamento do câncer
Nos tumores, células cancerígenas conseguem se esconder do sistema imune, o que permite seu crescimento. As imunoterapias — que renderam o Nobel de 2018 — buscam reverter esse processo, ativando as defesas do corpo para atacar o câncer. No entanto, ainda funcionam apenas para alguns tipos de tumor.
As células T reguladoras representam uma nova frente nessa luta. Estudos mostraram que certos tumores atraem grande quantidade dessas células, o que os protege da resposta imunológica. “Os pesquisadores tentam derrubar essa barreira, permitindo que o sistema imune acesse os tumores”, destacou o Comitê do Nobel.
Novos anticorpos monoclonais vêm sendo desenvolvidos para eliminar essas células associadas a tumores. Ensaios clínicos já estão em andamento.
Doenças autoimunes
Em doenças autoimunes, a estratégia é oposta: estimular a formação de mais células T reguladoras, para impedir que o corpo ataque tecidos saudáveis. Já em transplantes, o foco é modificar e direcionar essas células para o órgão implantado, evitando rejeição.
Essas descobertas não apenas transformam o entendimento do sistema imunológico, mas também oferecem esperança de terapias mais eficazes e personalizadas — capazes de equilibrar a defesa do corpo sem causar autodestruição.