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Um presépio com uma prostituta e um casal gay foi retirado de uma exposição em um convento no Rio de Janeiro

A obra, criada em 2000, já foi exibida em várias cidades do Brasil e do mundo. (Foto: Reprodução)

Um presépio com uma prostituta e um casal homossexual entre seus personagens — além do Menino Jesus, e de Maria e José —, e que já tinha sido apresentado como uma obra que representa os excluídos, não está mais em exibição no Convento de Santo Antônio, no Centro do Rio. No lugar das imagens, agora figura um pano preto. Os curadores informaram que retiraram a peça “a fim de evitar escândalos que em nada contribuem para fomentar o Espírito de Natal”.

O presépio, feito pelo artista plástico Luciano de Almeida, estava em exposição pela primeira vez no Rio, após passar por São Paulo, Alemanha e Itália. Há quem associe a retirada da obra à censura ocorrida no carnaval de 1989, quando o Cristo Mendigo de Joãosinho Trinta foi proibido pela Igreja de desfilar na Sapucaí e saiu coberto por plástico preto.

Em nota, a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, ligada ao convento, afirmou que a decisão se deu pela compreensão distorcida de alguns grupos, e que o objetivo da peça era fazer uma provocação artística para o diálogo, a acolhida e a misericórdia. Ainda de acordo com o comunicado, “aquele que não veio para condenar, mas para salvar, sonha como um mundo onde o respeito seja a regra e, o amor, a lei maior”. Em outro trecho, afirma ainda esperar que a mesma indignação provocada seja capaz de sensibilizar quem se coloca como “fiscal da fé” diante de tantas realidades de morte, intolerância e exclusão.

Na quarta-feira (27), o convento e o curador da mostra, frei Róger Brunorio, não se pronunciaram. Em recente entrevista, o frei tinha dito que a obra representava excluídos da sociedade.

O artista plástico Luciano Almeida, de 38 anos, discorda da decisão da curadoria de colocar um pano preto no lugar da obra e afirma que a mensagem transmitida é de amor ao próximo e acolhimento, com a representação de minorias, como os homossexuais e os enfermos.

“O presépio foi inspirado em uma passagem bíblica que fala sobre o fato de Deus não ter seus prediletos. Mas, se Deus tivesse, com certeza esses preferidos seriam as pessoas marginalizadas. O artista é sempre mais briguento, mas eu entendo que os franciscanos do convento sejam da paz e tenham optado por evitar problemas maiores.”

A obra, criada em 2000, já foi exibida em várias cidades do Brasil e do mundo, sendo premiada por votação popular no ano de criação, em São Paulo. Luciano, que mora na cidade paulista de Cunha, lamenta a polêmica em torno do presépio e deixa claro que o cenário apresentado inclui outros personagens que, para ele, ficam em segundo plano e são ignorados pelas pessoas. A obra estava em exposição pela primeira vez no Rio.

“Tem referências a Madre Teresa de Calcutá e a São Francisco de Assis personificado, que muita gente nem viu. Além disso, eu deixo claro que, independente da cor da pele ou da orientação sexual, as pessoas podem sofrer preconceito. O casal de idosos presente no cenário tem cabelos claros e olhos azuis, e eles também podem sofrer por isso”, observou.

 

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