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Presidentes dos maiores bancos privados do País se comprometem a cortar crédito de empresas que desmatam

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Os três maiores bancos privados do País — Itaú Unibanco, Bradesco e Santander — trabalham para construir um modelo que permita rastrear os elos das cadeias produtivas do País, sobretudo inseridas no agronegócio. Querem impedir o financiamento de empresas ou produtores que promovam o desmatamento. Conversas com grandes frigoríficos já foram iniciadas.

Em julho, as três instituições anunciaram um plano conjunto para contribuir com o desenvolvimento sustentável da Amazônia. No mês seguinte, formaram o Conselho Consultivo da Amazônia. Nesta sexta-feira (4), os presidentes do Itaú Unibanco, Candido Bracher; do Bradesco, Octavio de Lazari Junior; e do Santander, Sérgio Rial, participaram juntos, iniciativa inédita, de entrevista ao vivo à colunista do jornal O Globo Míriam Leitão.

Os executivos afirmaram que contribuir para a preservação da Amazônia e o correto desenvolvimento do agronegócio no Brasil é um compromisso para garantir a expansão da economia do País.

Para chegar lá, dizem eles, será preciso ordenar a cadeia produtiva, eleger produtos nos quais o Brasil vai se destacar internacionalmente — como café e cacau — e fomentar o crescimento econômico e sustentável da região amazônica.

“Hoje, a tradição do comportamento ético se traduz na proteção do meio ambiente. E se alia a uma necessidade econômica, de negócio. O mercado brasileiro está sofrendo e sofrerá mais as consequências da degradação do meio ambiente, da degradação da Amazônia”, disse Bracher. “É nosso melhor interesse e o melhor interesse de todos os nossos clientes defendermos a Amazônia.”

Rial sublinhou que os grandes bancos estão “no epicentro das cadeiras produtivas do País” e isso permite ajudar a estimular ações que colaborem para o desenvolvimento de uma economia sustentável.

“Temos de olhar para elas entendendo o que representam para o futuro dos nossos negócios. Uma das vantagens do País é a agroindústria. E os segmentos dessa indústria são interligados globalmente, como a soja e a pecuária. A Amazônia está no centro da vantagem competitiva de longo prazo do Brasil.”

Há quatro medidas sendo discutidas para serem apresentadas, explica Rial:

“Vamos focar em quatro pontos: a pecuária, envolvendo a questão da mesa redonda sustentável com a indústria e pensando na cadeia; a questão da regularização fundiária, apresentando algo concreto e pragmático com a ajuda institucional de escritórios de advocacia; além da questão das culturas em que temos que sair com um programa voltado ao fomento escalável e da construção da bioeconomia com o conselho consultivo.”

Os primeiros resultados da iniciativa, avalia o presidente do Itaú Unibanco, devem vir em 2021:

“A pandemia nos mostrou a possibilidade de cooperação e a questão da Amazônia surge naturalmente na medida em que, como cidadãos, sentimos certa vergonha em mostrar para o mundo estes índices de desmatamento. E, como empresa, temos interesse em corrigir essa situação.”

Grandes frigoríficos

Um dos pontos relevantes no projeto é entender como os bancos vão atuar para impedir que produtores e empresas que atuam de forma ilegal sejam financiadas, sobretudo no segmento de produção de carne, ponderou Míriam Leitão.

Bracher destacou que o foco está em combater o desmatamento ilegal e garantir que ninguém “cuja atividade envolva tirar proveito de bezerros e gado criados em áreas irregulares” seja financiado. Ele afirma que já há conversas em curso com os grandes frigoríficos do Brasil.

“As grandes empresas do setor são fáceis de controlar. E de elas terem controle sobre sua atividade. Já tivemos conversas iniciais com os frigoríficos, já encontramos uma boa vontade deles de assumirem individualmente determinados compromissos, que nós vamos avaliar. E nosso conselho de especialistas está nos ajudando a aprender como o rastreamento da atuação das empresas será feito”, contou o presidente do Itaú.

Rial destacou que é preciso atrair as grandes companhias para que o efeito chegue também às pequenas:

“A soja também sofreu um processo de expansão acelerado no Centro-Oeste e as grandes traders do setor criaram uma mesa-redonda da soja responsável. Resolveu tudo? Não, nunca se resolve absolutamente tudo. Mas a pecuária vai pelo mesmo caminho. Temos de trazer essas empresas em termos de responsabilização para não fomentar algo ilegal. Trazer os grandes para buscar maior conformidade com os menores. Os incentivos estão mais alinhados com os menores. Para serem testados na fronteira.”

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