A Polícia Militar do Rio prendeu, na noite desta sexta-feira (28), um homem suspeito de ser o chefe do tráfico de drogas da favela Santa Marta, em Botafogo, zona sul da cidade.
Duas pessoas foram baleados em intensa troca de tiros que ocorreu por volta das 22h30. Entre os feridos estaria Marco Polo Lipes Lima dos Santos, 32, conhecido como Mãozinha, que supostamente comandava o tráfico na favela, a primeira a ter uma UPP no Rio, instalada em 2008. Ele tem um mandado de prisão em aberto e estaria participando de uma festa em comemoração ao seu aniversário.
Moradores da favela e do entorno, que é majoritariamente residencial, registraram nas redes o momento dos tiros. Segundo a PM, homens da UPP foram atacados durante um patrulhamento, o que desencadeou o conflito.
A troca de tiros ocorre no mesmo dia em que o Rio recebe reforço na segurança de homens das Forças Armadas, que patrulharam bairros e as principais vias expressas da cidade. Não foi empregado, contudo, efetivo das tropas federais na ação desta sexta-feira na favela.
Os conflitos em área de UPP no Rio passaram a ser rotina. Em grave crise fiscal, o governo tem dificuldade de bancar a estrutura policial. Faltam coletes, munições e até gasolina para as viaturas. Os criminosos aproveitam o momento de fragilidade do Executivo para avançar em territórios antes controlados pela polícia.
Há pouco menos de um ano voltaram a ser frequentes confrontos entre polícia e traficante no Santa Marta, favela violenta nos ano 1990 e escolhida pelo governo de Sérgio Cabral como a primeira a receber uma UPP. A favela foi escolhida pelo seu tamanho menor em relação a outras do Rio, ter poucas rotas e fuga e ficar localizada em importante bairro de passagem na zona sul.
A favela foi cenário para o livro “Abusado”, escrito pelo jornalista Caco Barcelos, que conta a trajetória do bandido Marcinho VP. Também foi lá que o cantor Michael Jackson gravou o clipe da música “They don’t care about us” (Eles não se importam conosco), em 1996.
Autorização federal
O governo federal autorizou nesta sexta (28) o uso das Forças Armadas para fazer a segurança pública do Estado do Rio até o final deste ano. Com isso, os militares começaram a percorrer as principais vias expressas da capital fluminense, já por volta das 14h30min, fazendo reconhecimento da área.
O decreto de Garantia de Lei e Ordem (GLO) foi publicado em edição extraordinária do “Diário Oficial”.
A decisão é assinada pelo presidente Michel Temer (PMDB), pelos ministros da Justiça, Torquato Jardim, e da Defesa, Raul Jungmann, e pelo secretário-executivo do Gabinete de Segurança Institucional, Marco Antônio Freire Gomes. Segundo o documento, vai caber às três pastas definir como será a atuação dos militares no Estado.
De acordo com Jungmann, a presença dos militares será estendida até 2018. Ele disse que o decreto menciona apenas até o final de 2017 por questões burocráticas.
A princípio, serão usados 8.500 homens das Forças Armadas, além de 620 da Força Nacional e 380 da Polícia Rodoviária Federal, que já haviam sido anunciados.
De acordo com Jungmann, os militares não serão empregados para o patrulhamento de rotina, como ocorreu em outras ações do Exército no Rio. A intenção é realizar operações pontuais em apoio às forças estaduais. Contudo, o efetivo estará sempre mobilizado para a atuação.
“Nosso carro chefe é inteligência. Essa operação visa chegar ao crime organizado. […] Não vamos ter ocupações como fizemos na Maré. Quando colocamos a tropa nas ruas, isso inibe o crime. Dá uma sensação de segurança. Mas não resolve o problema”, disse Jungmann.
O comandante da ação será o general Mauro Sinott, da 1ª Divisão do Exército. “Não haverá uma rotina. Vamos participar de diversas ações. Podemos, por exemplo, atuar em grandes operações de órgãos para cumprimento de mandados fazendo uma operação de cerco”, afirmou Sinott.
Com um deficit de R$ 21 bilhões nos cofres do Estado, o Rio vive uma crise na política de segurança pública. A grave crise financeira teve como um dos resultados o atraso no salário de servidores –policiais, por exemplo, ainda estão sem receber 13º e bônus. Enfrenta também uma escalada de violência.
No primeiro trimestre de 2017, o número de homicídios dolosos cresceu 26% em relação ao mesmo período de 2016 e o de mortes decorrentes de operações policiais, 85%.
Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostram que a taxa de crimes com morte violenta não é tão alta desde 2009.
Um conjunto de fatores contribui para a situação. De um lado, forças de segurança fragilizadas pela crise econômica. A política de UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) ruiu – estudo da PM diz que houve 13 confrontos em lugares com UPP em 2011 contra 1.555 em 2016. Do outro, confrontos entre grupos criminosos também têm sido mais frequentes. (Folhapress)