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Prévia da inflação brasileira desacelera para 0,18% em outubro

Os preços de combustíveis tiveram alta de 1,16% em outubro, após recuo de 0,10% no mês anterior. (Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Após forte alta de 0,48% em setembro com aumento do preço da conta de luz, a prévia da inflação voltou a desacelerar. O IPCA-15 registrou 0,18% em outubro, com o fim do impacto do bônus de Itaipu, além de uma menor pressão da bandeira tarifária, que saiu de vermelha patamar 2 para patamar 1.

Com isso, a energia elétrica residencial saiu de um aumento de 12,17% em setembro para recuo de 1,09% este mês.

O número veio abaixo do esperado pelos analistas de mercado. A mediana da Bloomberg projetava alta de 0,21%. Nos últimos 12 meses, o índice acumula alta de 4,94%, abaixo dos 5,32% observados nos 12 meses imediatamente anteriores, mas ainda acima do teto da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN): 3%, com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

Já no ano, o índice acumula 3,94%, e em outubro de 2024, a taxa havia sido de 0,54%.

A desaceleração só não foi maior por conta da alta nos combustíveis (1,16%) e nas passagens aéreas (4,39%), que puxaram o segmento de transportes para cima (0,41%). O etanol, a gasolina e o óleo diesel viram seu preço subir, enquanto o gás veicular teve queda.

No entanto, o IPCA do fim de outubro deve desacelerar ainda mais. Isso porque a gasolina, que na prévia da inflação está pressionando para cima, passou por um reajuste que levará a uma queda no preço nos últimos dias do mês. O item é um dos que possuem maior impacto individual no índice, de forma que essa queda pode levar inflação a ficar abaixo do teto em 2025.

Entre os 9 grupos de produtos e serviços analisados pela pesquisa, cinco tiveram alta no preço no mês de outubro. São eles: vestuário, despesas pessoais, saúde e cuidados pessoais, habitação e educação. Já os responsáveis pelas quedas foram artigos de residência, comunicação e alimentação e bebidas.

Com isso, a inflação de alimentos no acumulado de 12 meses chegou a 6,26% em outubro, o menor número desde setembro de 2024. Após cinco meses seguidos de deflação, desde junho desde ano, os alimentos ficaram 0,98% mais baratos.

A queda de 0,10% no preço da alimentação em domicílio, no entanto, foi menor do que a registrada no mês anterior, quando recuou 0,63%. Os alimentos com quedas que tiveram maior impacto no índice foram a cebola (-7,65%), o ovo de galinha (-3,01%), o arroz (-1,37%) e do leite longa vida (-1,00%). Por outro lado, o aumento do preço do óleo de soja (4,25%) e das frutas (2,07%) foram destaques positivos.

Economistas acreditam que nos últimos meses do ano é possível que haja uma inflação um pouco maior de alimentos, devido a questões sazonais, como a oferta de carnes que tende a diminuir, levando ao aumento do preço de proteínas, além de que alguns desses produtos ficam mais caros com as festas de final de ano.

Ainda assim, elementos como o câmbio valorizado impedem uma pressão mais forte dos alimentos, como a vista do fim de 2024.

Inflação convergindo para a meta

Para Luciano Costa, economista-chefe da Monte Bravo, o resultado, em geral, foi uma boa notícia, com a inflação de serviços em um comportamento mais favorável. Ele menciona também a menor pressão da alimentação fora do domicílio — em restaurantes, bares, etc. — e bens duráveis, com deflação em itens como eletrodomésticos e móveis.

“Tem uma desaceleração vindo desses grupos que reflete a desaceleração da economia e a diminuição de demanda por bens duráveis, que são mais ligados a crédito, e aí tem um reflexo da política monetária. Então, em geral, o combo do resultado trouxe uma trajetória benigna da inflação, com alguns itens importantes vindo mais bem comportados, principalmente serviços. Bens continuam com uma trajetória benigna, alimentos com uma deflação, menor, mas com deflação.”

Com isso, ele revisou a projeção de outubro de 0,27% para 0,20%. Já para o acumulado ao fim de 2025, a expectativa também foi ajustada: de 4,7% para 4,6%. Um fator que contribui para essa visão de um cenário mais positivo à frente é o reajuste da gasolina, que deve começar a mostrar seus efeitos, no IPCA “cheio” de outubro, mas que deve ter ainda mais impacto no índice de novembro, segundo os economistas.

Dessa forma, a inflação se aproxima cada vez mais da possibilidade de fechar o ano dentro do teto da meta de 4,5%.

“Nas últimas duas leituras do IPCA, a gente estava com uma projeção acima do teto da meta, com 4,8%. Hoje a gente revisou para 4,6%, então está se aproximando do teto da meta. Poderia inclusive ficar no 4,5%, se eventualmente a gente tiver alguma surpresa em algum grupo, como pode ter nos serviços, ou alguma parte de bens que possam desacelerar mais do que a gente está esperando.”

Ele lembra que em meados de 2025, as projeções de inflação para o fim do ano estavam acima de 5%, se aproximando de 6%.

“Entre aquele pior momento da virada do ano, onde a inflação ficou muito pressionada, e agora houve uma melhora significativa das projeções de inflação.”

Corte de juros no início do ano

Para Moreno, do C6 Bank, a expectativa para o IPCA do fim de outubro é ainda menor (0,17%), enquanto a projeção do índice acumulado de 2025, que estava em 5%, também deve ser revisada para baixo, se aproximando dos 4,5%. Mas os cortes de juros ainda não devem vir este ano, na sua visão.

“Esse alívio que a gente está vendo no curto prazo abre espaço para o Banco Central cortar juros, nosso cenário é de queda da Selic a partir de março. Com esses dados melhores de inflação e a perspectiva de fechar o ano dentro do intervalo, aumenta até a chance dele antecipar esse movimento para janeiro.”

No entanto, ela ainda vê a necessidade de cautela por parte do Comitê de Política Monetária (Copom).

“Nosso cenário para 2026 contempla um mercado de trabalho que se mantém aquecido, uma pressão na inflação dos serviços, um câmbio um pouco mais depreciado. Então, a inflação deve continuar alta no ano que vem.”

Por outro lado, Costa, da Monte-Bravo, já prevê a queda dos juros para a primeira reunião de 2026. Segundo ele, embora o desemprego ainda esteja em mínimas históricas, o mercado de trabalho já vem mostrando sinais de desaceleração, assim como setores da economia como o comércio, a indústria e até os serviços, além do aperto nas condições de crédito.

 

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