Nessa segunda-feira, durante um evento alusivo ao Dia Internacional de Combate à Corrupção, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, mencionou a Operação Lava-Jato, criticou as “lutas corporativas fratricidas” e disse compreender as “desconfianças e dúvidas” que pairam sobre a sua gestão no órgão, ao mesmo tempo em que reafirmou o seu compromisso de enfrentar ilícitos.
“Nestes dois meses e meio de mandato, tenho ouvido preocupações sinceras sobre o efetivo compromisso do Ministério Público, em minha gestão, contra a corrupção. São indagações autênticas, verdadeiras e coerentes, algumas carregadas de desconfianças e dúvidas que são em tudo compatíveis com a leitura crítica da história brasileira, marcada por ondas sucessivas de avanços e retrocessos no enfrentamento da corrupção”, ressaltou.
“Por isso, considero importante dizer a todos que algumas razões presidem minha firme atitude contra a corrupção. A primeira relaciona-se com a desigualdade social e a falta de oportunidade para os brasileiros, notadamente os mais pobres, mais humildes e mais discriminados”, prosseguiu.
“A segunda razão relaciona-se com ineficiência na gestão da coisa pública. Muitos programas prometem resolver problemas crônicos, como a falta de acesso a água potável, melhorar a qualidade da educação, garantir moradia, alimentação adequada e saúde para todos. Cada programa reaviva esperanças e estimula recomeços. A cada vez que não cumprem o que prometem, diminuem a confiança e a esperança das pessoas nas instituições e no país. Um ambiente de incerteza, insegurança e ineficiência leva ao descaso com a coisa pública e com o bem comum.”
A questão da eficiência no sistema de administração da Justiça tem sido um dos focos da PGR, nas palavras de membros da equipe. Em quase três meses no cargo, Raquel pediu ao STF ao menos 24 arquivamentos de inquéritos, a maioria por prescrição dos crimes e falta de provas. Nos pedidos de arquivamento, ela apontou ineficiência nas investigações tocadas por seu antecessor, Rodrigo Janot, que deixou o cargo no dia 17 de setembro.
“A terceira razão”, prosseguiu Dodge, “consiste na importância da integridade no trato da coisa pública. A separação entre a coisa pública e a privada é uma das principais instituições da civilização moderna. Os recursos públicos, frutos de impostos, devem estar a serviço de todos.”
Geddel
A procuradora-geral da República não mencionou nenhuma investigação específica envolvendo políticos, mas fez menção indireta ao episódio do apartamento atribuído ao ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e que servia de “bunker” para esconder R$ 51 milhões em Salvador (BA).
“Algumas quadrilhas foram desbaratadas, mas muitas continuam a agir com desfaçatez, à luz do dia e em conluios que não escapam a registros, a câmeras de vídeo e a colaborações. Outras escondem quantias milionárias, às vezes de modo tão petulante e displicente que nos dão a certeza de que não temem a punição”, disse.
