Com a pandemia, os processos seletivos se digitalizaram e a entrevista de emprego on-line virou não só tendência, mas uma prática comum nas organizações. Uma pesquisa realizada em novembro aponta que os recrutadores viram benefícios com a digitalização, seja na redução de etapas, ampliando o leque geográfico de candidatos ou com a realização de “conversas mais profissionais” para cada processo. Mas a mesma pesquisa indica um outro lado desse cenário: entre 387 profissionais desempregados, quase metade disse ser difícil transmitir “energia” em uma entrevista a distância. Um quinto desse total, aliás, considera “frias” as entrevistas mediadas por tecnologia, 19% relataram dificuldades para conquistar a atenção do recrutador.
“Quando conversamos com as pessoas e recrutadores, percebemos que há uma perda em termos de linguagem corporal, “do olho no olho”, de capturar aspectos que o contato presencial gera. É por essa razão que a tendência que deve ficar no pós-pandemia é de um processo seletivo com as etapas iniciais on-line e as finais no presencial”, diz Mário Custódio, diretor associado responsável pela área de de recrutamento executivo da Robert Half. Na opinião dos cerca de 400 recrutadores entrevistados o processo de seleção pós covid-19 será no formato híbrido.
As entrevistas compõem a 14ª edição do Índice de Confiança da Robert Half (ICRH), realizado nas últimas duas semanas de novembro. Foram ouvidos no total 1.161 profissionais (sendo 387 recrutadores, 387 empregados e 387 desempregados, distribuídos regionalmente e proporcionalmente pelo Brasil, de acordo com os dados do mercado de trabalho coletados na PNAD. Na ocasião, houve uma melhora na percepção de todos os públicos entrevistados com relação a expectativa do mercado de trabalho.
A média geral de aumento de confiança subiu de 25,2 em maio para 30,2 em agosto e ficou em 32,5 em novembro. Apesar do número ser baixo ainda, explica Custódio, reflete o desejo e a necessidade de muitos profissionais voltarem ao mercado, dos recrutadores de seguirem com processos seletivos para 2021 e da noção geral de que “não dá mais para esperar o cenário melhorar de vez”.
Mais da metade dos recrutadores (53%) relataram que a necessidade de especialização técnica é o principal motivo para contratar profissionais de projetos para cargos de analistas a diretores, com prazo específico de contrato. Entre as razões que impulsionam contratações temporárias, também foram citadas sobrecarga da equipe fixa (37%), imprevisibilidade econômica para uma contratação permanente (37%); flexibilidade (32%); e falta de headcount aprovado (26%).
No contexto de trabalho híbrido experimentado com maior força nos últimos meses, com empresas retornando aos escritórios, os maiores desafios para os profissionais permanentes entrevistados (387) são manter uma comunicação adequada com a equipe (25%), organizar e planejar tarefas (24%) e manter a proximidade com os colegas (21%). “A flexibilidade foi um ganho importante no trabalho nos últimos meses, mas há ainda o desafio para várias lideranças de conduzirem melhor a gestão remota: definindo melhor plano de ação e tarefas, criar uma rotina de conversa sobre a evolução do trabalho e ter uma cobrança mais pautada pela entrega”, avalia Custódio.