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Proposta de delação do ex-ministro Antonio Palocci com a força-tarefa da Operação Lava-Jato tem 50 anexos temáticos

Palocci confessou seus crimes e indicou o envolvimento dos dois ex-presidente com os crimes de corrupção na Petrobras. (Foto: Reprodução)

A proposta de delação premiada negociada pela defesa do ex-ministro Antonio Palocci com a força-tarefa da Operação Lava-Jato tem cerca de 50 anexos temáticos. Além de incriminar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as revelações aumentam o número de empresas investigadas por corrupção nos governos do PT e avança sobre o setor financeiro, além de ajudar a decifrar velhos escândalos do governo, como o mensalão.

Réu confesso da Lava-Jato desde quarta-feira (06), Palocci passou de homem forte dos governos Lula e Dilma Rousseff a inimigo número 1 do PT, desde que revelou ao juiz federal Sérgio Moro que “Emílio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula”.

Palocci deu detalhes de um encontro no final do governo de Lula, em 2010, que enlvolveu o acerto de R$ 300 milhões colocados à disposição do PT e Lula pela Odebrecht e a garantia de uma “relação fluída” da empresa com o governo Dilma. “Não quero esconder nada.”

Interrogado na quarta-feira (13), Lula atacou duramente Palocci, a quem chamou de “simulador”, na tentativa de desqualificar suas revelações. Elas narram “um pacote de propinas” para o ex-presidente, que incluía a doação de um terreno para o Instituto Lula, de R$ 12 milhões, um apartamento no prédio em que ele mora em São Bernardo do Campo, reformas no sítio de Atibaia (SP), palestras a R$ 200 mil e os R$ 300 milhões “à disposição para o presidente fazer sua atividade política”.

Os anexos temáticos de Palocci – que servem de proposta das revelações de crimes que o delator poderá fazer em troca de uma redução de pena – trazem mais dados sobre o envolvimento de Lula com a corrupção na Petrobrás e em outros negócios nos governos petistas de 2003 a 2016, como negociações por medidas provisórias em troca de propinas, empresas ainda não citadas na Lava-Jato e o envolvimento de bancos em irregularidades.

Primeiro petista do núcleo duro de Lula a abrir o bico na Lava-Jato, as revelações feitas a Moro na ação penal em que os dois são réus pelo acerto com a Odebrecht de repasse do terreno para o Instituto Lula e do apartamento são apenas uma amostra do que Palocci pretende contar aos investigadores, se conseguir fechar a delação. Reportagem da revista Veja cita anexo em que Palocci diz ter entregue valores de R$ 40 mil a R$ 50 mil a Lula.

As tratativas de delação começaram há três meses, mas encontram resistência entre membros da força-tarefa. Investigadores consultados admitem esperar mais provas de corroboração de Palocci, para que o acordo tenha validade. As negociações serão fechadas, se a defesa conseguir o acordo, já na gestão da nova procurador-geral da República (PGR), Raquel Dodge. Rodrigo Janot deixa o cargo neste domingo (17).

Questionado pela defesa de Lula sobre um acordo de delação, na audiência com Moro, Palocci confirmou estar em tratativas com a Lava-Jato. A Moro, em sua primeira confissão na semana passada, Palocci avisou que tem muito mais a falar: “Os fatos desta denúncia dizem respeito a um capítulo de um livro um pouco maior do relacionamento da Odebrecht com o governo do ex-presidente Lula e da ex-presidente Dilma, que foi uma relação bastante intensa, bastante movida a vantagens, a propinas pagas pela Odebrecht para agentes públicos, em forma de doação de campanha, de benefícios pessoais, em forma de caixa 1 e caixa 2”.

Benefícios

Ex-ministro da Fazenda de Lula, coordenador da campanha de Dilma, em 2010, e chefe da Casa Civil em 2011, Palocci confessou seus crimes e indicou o envolvimento dos dois ex-presidente com os crimes de corrupção na Petrobras, para trilhar – em paralelo às negociações por delação – um caminho alternativo para reduzir sua pena.

O objetivo é deixar a cadeia e conseguir que Moro estipule um limitador dos anos de prisão a cumprir. Preso desde outubro de 2016, em Curitiba, Palocci foi condenado em junho a 12 anos e 2 meses de prisão em outro processo e é alvo ainda de outras investigações.

No próximo mês, Palocci completa um ano de cadeia, em Curitiba. A decisão de confessar os crimes em juízo e incriminar Lula, busca uma via alternativa para redução de pena, como fizeram outros réus da Lava-Jato, diante da dificuldade de obter o acordo de delação com o Ministério Público Federal. (AE)

 

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