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Publicação médica mais prestigiada do mundo rompe tradição e critica Donald Trump

Trump se nega a aceitar a derrota para Joe Biden nas eleições presidenciais. (Foto: Reprodução/Twitter)

Ao longo de seus 208 anos de história, a New England Journal of Medicine (NEJM) manteve-se totalmente apartidário. A publicação médica de maior prestígio do mundo nunca apoiou ou fez oposição a um candidato político. Até agora.

Em um editorial assinado por 34 editores (apenas um não é cidadão norte-americano) e publicado na quarta-feira (7), a revista afirma que o governo de Donald Trump combateu tão mal a pandemia de coronavírus que “pegou uma crise e a transformou em tragédia”.

A publicação não apoia explicitamente o candidato democrata Joe Biden, mas essa é a única conclusão possível, segundo alguns cientistas.

O editor-chefe, Eric Rubin, disse que o editorial foi um dos apenas quatro que foram assinados por todos os editores na história da revista. Os editores da NEJM, então, de certa forma se juntam aos da revista Scientific American, uma das mais notórias do mundo no ramo científico, que em setembro declarou apoio a Biden. A decisão da Scientific American também foi a primeira desse tipo desde a sua criação, em 1845.

Segundo a NEJM, a liderança política falhou com os americanos de muitas maneiras que contrastam intensamente com as medidas tomadas por líderes de outros países.

Nos Estados Unidos, de acordo com a publicação, houve pouca testagem, especialmente no início da pandemia. Havia também poucos equipamentos de proteção e faltou liderança nacional em medidas importantes como o uso de máscaras, o distanciamento social, a quarentena e o isolamento social.

A revista disse que houve dezenas de milhares de mortes “excessivas” causadas direta e indiretamente pela pandemia devido às tentativas de politizar e atrapalhar o trabalho do Instituto Nacional de Saúde, do Centro de Controle e Prevenção de Doenças e da Food and Drug Administration (FDA, agência americana semelhante à Anvisa).

A NEJM também destacou que houve grande perda econômica e um aumento na desigualdade social à medida que o vírus atingiu as regiões mais pobres.

De maneira atípica, o editorial pede mudanças: “Quando se trata das medidas contra a maior crise de saúde pública de nosso tempo, nossos líderes políticos atuais demonstraram que são perigosamente incompetentes. Não devemos estimulá-los e autorizar a morte de milhares de americanos, permitindo que mantenham seus empregos”.

Como todas as publicações médicas atualmente, a NEJM produz diversos artigos sobre o novo coronavírus. Os editores têm lutado para unir esforços, insistindo na qualidade de seu material em meio a uma enxurrada constante de desinformação e declarações falsas do governo, disse Clifford Rosen, editor associado do jornal e endocrinologista da Universidade Tufts em Medford, no estado de Massachusetts.

Nossa missão é promover a melhor ciência e também educar”, disse Rosen. “Nós estamos vendo uma liderança anticientífica e ruim.”

Existe o risco de que a decisão de quebrar o apartidarismo possa manchar a reputação de imparcialidade da NEJM.

Enquanto outras revistas médicas, como JAMA, Lancet e The British Medical Journal, assumem posições políticas, New England Journal of Medicine sempre lidou com esse tema de maneira moderada, como em um fórum promovido em outubro de 2000, quando o democrata Al Gore e o republicano George W. Bush então candidatos à Presidência responderam a questões sobre saúde.

No entanto, é difícil imaginar um debate tão deliberativo na atmosfera de hoje, segundo Jeremy Greene, professor e historiador da medicina na Universidade Johns Hopkins.

De acordo com ele, o governo Trump demonstrou “um desrespeito contínuo e irresponsável pela verdade”: “Se quisermos um fórum baseado em fatos, me aflige que isso não poderia funcionar de nenhuma forma”. As informações são do jornal The New York Times.

 

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