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Qual será o impacto do revés na delação premiada da JBS/Friboi no legado do procurador-geral da República e no futuro da Operação Lava-Jato

Rodrigo Janot adotou depoimentos de delatores como o alicerce da sua peça. (Foto: Antônio Cruz/ ABr)

“Enquanto houver bambu, lá vai flecha”, prometeu em julho o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a menos de três meses do fim do seu mandato. Faltando agora poucos dias para deixar o cargo, em 17 de setembro, ele tem cumprido a promessa. Na terça-feira, foi a vez dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e outros petistas serem alvo de uma denúncia por crime de organização criminosa.

Mas bem no momento em que Janot reforça sua artilharia, ele próprio sofreu um grande revés com a revelação de possíveis ilegalidades na condução do acordo de delação premiada firmado com o grupo JBS, justamente aquele que deu origem à primeira denúncia contra o presidente Michel Temer e, acredita-se, ainda será usado em uma segunda, ao lado da colaboração de Lúcio Funaro (tido como operador de propina do PMDB), que acaba de ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal.

Marcus Melo, professor titular de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco, acredita que “o episódio traz um custo “reputacional” considerável para Janot, que já havia sofrido danos não triviais com o episódio da delação superpremiada do Joesley Batista” – o executivo havia se livrado de qualquer hipótese de prisão, o que gerou certa indignação em setores da sociedade.

Ele vê, porém, um impacto modesto na tramitação da esperada segunda denúncia contra Temer, pois mesmo sem o novo escândalo envolvendo o acordo, o “saldo líquido já era positivo” para Temer e “a possibilidade de a denúncia ser até arquivada já estava posta”.

“A derrubada da primeira denúncia já havia sinalizado que a base parlamentar do presidente Temer estava coesa, dentre outras razões pelo próprio comportamento defensivo dos parlamentares em relação à Lava Jato. E mais: na medida em que o tempo passa os ânimos arrefecem, na opinião pública e entre parlamentares, por razões estritamente pragmáticas: o governo tem pouco mais de 12 meses pela frente e há uma certa reversão de expectativas sobre a economia”, nota ele.

Já para o futuro da Lava Jato em si, embora considere que as revelações comprometedoras sobre o acordo com a JBS tenham potencial para alimentar iniciativas contra a operação no Congresso, Melo avalia que hoje a maioria do STF tem dado sustentação ao Ministério Público e que a entrada de Raquel Dodge no lugar de Janot também tende a “zerar a dimensão mais personalizada dos conflitos”. A futura procuradora-geral vem sendo apontada como mais discreta que Janot.

O cientista político acredita que mais cautela, a partir desse episódio da JBS, pode ser positivo para a operação. “Os impactos (das novas revelações sobre o acordo da JBS) serão significativos, não diria para a continuidade da Lava-Jato, mas para seu padrão de atuação que provavelmente será menos açodado e mais cauteloso”, disse.

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