Quase metade (42%) dos brasileiros que tem alguma conta em atraso no cadastro positivo, a lista dos bons pagadores, está superendividada, ou seja, com as dívidas atrasadas fora de controle e parcelas atrasadas acima da média. O dado é da Quod, empresa de inteligência de dados e uma das gestoras do cadastro positivo.
A Quod categorizou os consumidores do cadastro positivo em quatro perfis: superendividados, endividados, desorganizados e redimindos. O segundo maior grupo é o de redimindos (24%), aquelas pessoas com dívidas atrasadas que estão se esforçando para renegociar e quitar as pendências. O período para o pagamento das parcelas em atraso desses consumidores é maior do que o da média, devido à renegociação das dívidas, conforme a empresa.
Já o terceiro maior grupo é o de desorganizados (21%), que mais pagam em dia do que atrasam, mas que entram e saem da inadimplência e têm atrasos relevantes. O período de atraso no pagamento de parcelas desses consumidores é menor do que a média, o que significa que a chance de recuperação de crédito deles é bem acima da média, de acordo com a Quod. Por último, está o grupo dos endividados (13%), cujas dívidas atrasadas estão no limite do controle.
Cada consumidor combina mais de um perfil, embora um deles predomine, segundo Ricardo Thomaziello, chefe de dados da Quod. Em meio à alta da inadimplência, ele destaca que a análise de concessão de crédito deve ser abrangente e minuciosa, já que a pessoa pode estar no cadastro positivo e mesmo assim estar superendividada, assim como pode estar com o nome negativado e não estar superendividada.
A inadimplência da carteira de crédito do sistema financeiro atingiu 2,5% em janeiro, aumento de 0,2 ponto percentual em comparação ao mês anterior e de 0,4 ponto percentual nem relação a um ano antes, conforme o dado mais recente do Banco Central.
Famílias endividadas
Em outra frente, o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer alcançou 77,7% do total de famílias brasileiras em abril, a maior proporção da série histórica da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic). Apurado desde janeiro de 2010 pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o índice avançou 0,2 ponto percentual no mês e 10,2 p.p. em relação a abril de 2021, quando a parcela correspondia a 67,5%.
De acordo com a pesquisa, a tendência de alta no endividamento se mantém ainda com os juros de mercado mais elevados. “A inflação alta, persistente e disseminada (IPCA em 11,3% ao ano) mantém a necessidade de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para a manutenção do nível de consumo”, avalia o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
Apesar de oferecer os custos mais elevados, o cartão de crédito segue como o tipo de dívida mais comum entre os consumidores. O endividamento no cartão de crédito foi a única modalidade que apresentou aumento em abril, representando 88,8% de famílias com dívidas e revelando que o endividamento está ocorrendo essencialmente no consumo de curto prazo.
O tempo de comprometimento com dívidas caiu novamente em abril (7,1 meses), com mais pessoas endividadas no período de até três meses (25,1% do total de endividados). Já o percentual de endividados por mais de um ano segue em queda, representando 32,9% dos endividados. As informações são do jornal Valor Econômico e da CNC.
