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Quem é quem no caso do Banco Master, que pode envolver fraude bilionária

O Banco Master foi liquidado pelo Banco Central na terça-feira. (Foto: Reprodução)

No centro de uma operação que investiga suspeitas de uma fraude bilionária, o Banco Master foi liquidado pelo Banco Central na terça-feira (18), poucas horas depois da prisão de seu dono, Daniel Vorcaro, pela Polícia Federal.

O BC havia informado à PF e ao Ministério Público Federal que detectara indícios de que o Master havia vendido R$ 12,2 bilhões em carteiras de crédito inexistentes ao BRB, o banco público do Distrito Federal, e entregado documentos falsos para tentar justificar o negócio.

Na manhã de terça, a autoridade monetária decidiu pela liquidação do banco, após o anúncio de que ele seria vendido ao Grupo Fictor, em acordo que envolveria um aporte de R$ 3 bilhões e seria feito com investidores árabes, cujos nomes não foram revelados. A negociação foi interpretada como “cortina de fumaça” para a fuga de Vorcaro ao exterior, avaliam investigadores.

A operação da PF contra o Master na terça-feira, batizada de Compliance Zero, cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 de busca e apreensão. A sede do BRB também foi alvo de busca e apreensão. Veja, a seguir, quem são os principais personagens do caso.

– Daniel Vorcaro: Mineiro de 42 anos, o controlador do Master começou no banco em 2016, com a compra de uma participação no banco Máxima. Ele assumiu o controle da instituição financeira em 2017 e mudou a marca para Master em 2021, com direito a campanha de TV com Ísis Valverde e mudança de sede para um dos prédios mais icônicos da Faria Lima. A instituição financeira vendia a imagem de um banco digital voltado ao crédito pessoal, em especial o consignado.

Desde 2021, o patrimônio do banco cresceu quase dez vezes, e a carteira de crédito quintuplicou. A principal estratégia era a venda de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) sobretudo a pessoas físicas, por meio de plataformas como XP e BTG. A principal propaganda era a garantia de serem cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) no valor de até R$ 250 mil por CPF. Ou seja: mesmo se o banco quebrasse, o dinheiro e a rentabilidade do investidor estariam garantidos.

Enquanto o Master crescia, Vorcaro estruturou uma rede de influência política, patrocinando eventos com ministros e banqueiros e colecionando uma rede de contatos que inclui petistas e bolsonaristas. Também ficou marcado por sua vida social agitada e pela presença ativa nas redes. Posts com sua namorada, a influenciadora Martha Graeff, viralizaram quase instantaneamente na Faria Lima. Vorcaro aparecia em diferentes partes do mundo ao lado de Martha, sempre em meio a muito glamour.

Os primeiros sinais da crise do Master começaram a aparecer no início deste ano, quando entrou no horizonte o início do vencimento de CDBs em grande escala. Vorcaro tentou vender então o Master para o BRB, mas o negócio foi barrado pelo BC.

Essa crise escalou até a noite de segunda-feira, 17, quando ele recebeu voz de prisão de um policial federal à paisana no momento em que passava no raio-x do Aeroporto de Guarulhos para fugir ao exterior.

Em nota, sua defesa afirmou que o banqueiro planejava voar a Dubai para se encontrar com os supostos interessados em comprar o Master em meio às negociações com o Fictor. Segundo os advogados, o empresário está à disposição para cooperar com as autoridades, prover informações e participar de audiências.

– Augusto Lima: Baiano de Salvador, o economista foi sócio de Vorcaro e do carioca Maurício Quadrado no Master. Lima e Quadrado deixaram a sociedade ainda em 2024, antes que os holofotes se voltassem para o banco, quando, em março deste ano, o BRB anunciou que desejava comprar a instituição. Segundo pessoas próximas a Lima, ele deixou a sociedade e a posição de executivo do Master em 28 de maio de 2024, ao assinar acordo para sair do banco.

O começo da trajetória de Lima como banqueiro de destaque remonta ao negócio de crédito consignado Credcesta, adquirido em uma privatização feita na Bahia em 2018, durante o governo de Rui Costa (PT), atual ministro da Casa Civil.

Lima também levou ao Master suas boas relações com o PT da Bahia, nas figuras de Costa e do ex-governador Jacques Wagner, hoje senador. Os três são conhecidos como amigos pessoais. Mas isso não afastava Lima de rivais políticos do PT no Estado, como Antônio Carlos Magalhães Neto (União Brasil) e João Roma (PL), ex-ministro de Cidadania do governo Bolsonaro.

A influência do banqueiro aumentou quando se uniu a Flávia Peres, ex-deputada federal pelo PL e ex-ministra-chefe da Secretaria de Governo de Jair Bolsonaro de 2021 a 2022, com quem namorou a partir de 2023 e se casou em janeiro de 2024, o que ampliou as suas conexões fortes com o Centrão.

Pelos termos de sua saída do Master, ele levaria o negócio de crédito consignado e também o Banco Voiter, que serviria como base para a criação de um novo, chamado Banco Pleno. Os planos de Lima envolviam o lançamento do Pleno para o mercado entre o fim de novembro e começo de dezembro, com ampla campanha de publicidade pela mídia, já em fase de finalização e aprovação.

A defesa de Augusto Lima afirmou que recebeu com surpresa a operação deflagrada pela PF, porque o empresário já havia se “desligado definitivamente de todas as suas funções executivas” no Master em maio de 2024. “As operações atualmente investigadas são posteriores à sua saída e, portanto, não guardam qualquer relação com sua atuação profissional ou com decisões tomadas durante sua permanência na instituição”, dizem seus advogados, em nota.

– Paulo Henrique Costa: Funcionário de carreira da Caixa Econômica Federal, Costa foi indicado para a presidência do BRB no início do governo de Ibaneis Rocha (MDB) e com o aval do Centrão.

A PF apura suspeitas de crimes na operação de venda do banco Master para o BRB. Após a operação, Costa foi afastado do cargo por 60 dias. Ele estava nos Estados Unidos na manhã de terça-feira, 18, quando a Justiça o retirou do cargo por 60 dias e autorizou mandados de busca e apreensão contra ele. Os investigadores chegaram a solicitar sua prisão, mas a Justiça não autorizou a medida.

Em nota, ele disse que a investigação é “legítima, necessária e positiva para o fortalecimento das instituições e para assegurar a transparência no sistema financeiro”. “Aquisições de carteiras são operações tradicionais do mercado financeiro. No caso do Banco Master, o BRB identificou, no primeiro quadrimestre, divergências documentais em parte das operações, comunicou o fato ao Banco Central do Brasil e promoveu, em sua grande maioria, a substituição dessas carteiras”, afirmou.

Costa disse ainda que o BRB revisou a documentação, reforçou controles e ajustes de processos e adotou medidas para mitigar riscos e preservar a instituição.

“Reitero meu compromisso de cooperar integralmente com as autoridades e de disponibilizar todas as informações necessárias para o completo esclarecimento dos fatos. Zelo pela transparência e pela legalidade em todas as minhas ações e confio que a apuração trará os devidos esclarecimentos”, afirma. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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