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“Queremos que essas histórias deixem de ser apenas cases no futuro e sejam o novo normal”, afirma a diretora-executiva da COP30, Ana Toni

A COP30 entra agora na sua reta final. (Foto: COP30/Divulgação)

Na terça-feira (18), este colunista dedicou-se integralmente aos debates voltados à iniciativa privada na COP30. Após cumprir a missão de representar a Fundação Gaia no tributo a José Lutzenberger — coordenando um painel sobre sua trajetória e lançando o documentário Sociedade Regenerativa —, iniciei uma nova etapa: mergulhar nas pautas empresariais, especialmente aquelas ligadas à transição energética.

O dia foi quente, sem sinal de tormenta tropical, mas o calor intenso e o barulho de múltiplos eventos simultâneos causaram mal-estar em alguns participantes. Ainda assim, consegui acompanhar cinco debates, todos marcados por uma energia propositiva e pela urgência de ação.

Entre os destaques, a pauta mais contundente sobre transição energética veio da Arayara, organização da sociedade civil que atua pela justiça climática, transição energética e direitos humanos. A ONG lançou uma carta aberta contra os subsídios à indústria do carvão, denunciando os impactos ambientais e sociais dessa matriz ultrapassada. Arayara defende o fim dos incentivos ao carvão e a aceleração de políticas públicas voltadas às energias renováveis, como solar e eólica.

Outro momento relevante foi o debate no Pavilhão Brasil sobre os impactos das metas NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) na economia. Coordenado por Emílio La Rovere, do CentroClima, o painel apresentou estudo da consultoria EOS, que revelou que as novas metas brasileiras podem gerar efeitos positivos na macroeconomia e no social. Segundo o estudo, a transição para uma economia de baixo carbono pode aumentar o PIB em até 2,3% até 2030, além de criar cerca de 1,5 milhão de empregos verdes.

Mas foi na manhã do mesmo dia que presenciamos um dos momentos mais simbólicos da COP30. Ana Toni, diretora-executiva da conferência e ex-secretária nacional de mudanças climáticas, recebeu o relatório Brasil, país de soluções climáticas para o clima, natureza e pessoas. O documento foi entregue por representantes do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), da Sustainable Business COP (SB COP) e da iniciativa Climate Action Solutions & Engagement (C.A.S.E.).

A SB COP, liderada pelo brasileiro Ricardo Mussa, reúne empresas de cinco continentes com o objetivo de ser para a COP o que o B20 é para o G20: um articulador de propostas empresariais. Já a C.A.S.E. é formada por gigantes como Bradesco, Itaú, Itaúsa, Marcopolo, Natura, Nestlé e Vale, que se uniram para apresentar soluções concretas e escaláveis.

O relatório, compilado pela Accenture, reúne 800 soluções de impacto positivo em cinco continentes. Segundo Patricia Feliciano, da consultoria, três áreas se destacam pela alta escalabilidade: agricultura regenerativa, biocombustíveis e restauração ecológica. Felipe Bottini, também da Accenture, reforçou: “A agricultura regenerativa se mostrou uma solução muito relevante não só para o Brasil, mas para o mundo”.

Ana Toni sintetizou o espírito da conferência: “Tínhamos três grandes objetivos no início do planejamento dessa COP: reforçar o multilateralismo, falar com as pessoas e trabalhar pela implementação. E o setor privado apareceu, deu show de profissionalismo e soluções concretas”. E concluiu com a frase que dá título a este artigo: “Queremos que essas histórias deixem de ser apenas cases no futuro e sejam o novo normal”.

A COP30 entra agora na sua reta final. O documento oficial ainda precisa de uma resolução, e o prazo está correndo. Mas ações como essas mostram que esta é, de fato, uma COP de ação. Os esforços foram feitos, e a resposta veio de várias frentes. No entender deste colunista, a COP não é um ato político, mas um momento de construção de consensos para salvar o planeta do enrosco que nós mesmos criamos.

* Renato Zimmermann, desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética

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