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“Queria destruir a elite política. E conseguiu”, diz o ex-deputado Eduardo Cunha sobre o juiz Sérgio Moro

Cunha foi condenado a 15 anos e quatro meses de prisão, pelos crimes de corrupção, lavagem e evasão fraudulenta de divisas. (Foto: Reprodução)

Na primeira entrevista concedida à imprensa desde que foi preso, há 11 meses, o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disparou ataques contra o juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava-Jato, e o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

À revista Época, o ex-deputado, que negocia delação com a nova procuradora-geral, Raquel Dodge, disse que Janot queria que ele mentisse para derrubar o presidente Michel Temer e que Moro se acha um salvador da pátria.

“Se eu conseguisse derrubar o Michel, Janot aceitava [firmar a colaboração]. Não topei mentir, confirmar o Joesley. O Lúcio [Funaro] topou”, disse Cunha. “Funaro mentiu muito para fechar a delação dele. Confirmou o que Janot queria”, continuou. Os trechos da entrevista foram divulgados na noite desta sexta-feira (29) pelo Twitter da publicação.

Na entrevista, o ex-presidente da Câmara tenta desconstruir a equipe da Lava-Jato. “Os caras não aceitam quando você diz a verdade. Eles têm as teses deles e você é obrigado a confirmar.” E garante: “O que tenho para falar arrebenta a delação da JBS e debilita a da Odebrecht. Posso acabar com a do Lúcio”, anunciou.

Sobre o juiz Moro, Cunha aponta qual seria, para ele, o objetivo do magistrado: “Queria destruir a elite política. E conseguiu.” Condenado por Sérgio Moro a 15 anos e quatro meses de prisão, pelos crimes de corrupção, lavagem e evasão fraudulenta de divisas, o ex-deputado se diz “um troféu político da Lava-Jato. O outro vai ser o Lula”.

Em Brasília

Eduardo Cunha está preso em Brasília desde 15 de setembro, vindo de Curitiba, onde cumpre detenção desde novembro do ano passado. A transferência temporária para a capital se deu porque Cunha, o ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) e outros réus da ação penal que investiga corrupção na liberação do FI-FGTS estavam marcadas para 20/9, mas acabaram adiadas para os dias 4 e 9 de outubro. Sérgio Moro autorizou que ele permaneça na capital até o dia 9, quando será ouvido.

Dinheiro no exterior

Diferenças de entendimento no Ministério Público Federal podem beneficiar o ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no julgamento de segunda instância do processo em que ele foi condenado.

Os procuradores de primeira instância, em Curitiba, entendem que Cunha deve ser condenado por mais um crime de lavagem de dinheiro além dos três que constam na sentença de Moro. No entanto, a Procuradoria Regional da República, que se manifesta nos processos do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre, acha que ele deve ser absolvido neste quesito.

O órgão ainda é favorável a um pleito da defesa: que as condenações do ex-deputado não sejam somadas individualmente em relação ao crime de evasão de divisas, o que implica em redução da pena.

A posição da Procuradoria Regional foi oficializada em duas manifestações, em julho e no último dia 19, nos processos a que Cunha responde e também no de sua mulher, a jornalista Claudia Cruz.

A acusação que levantou divergência diz respeito à transferência de US$ 165 mil de uma conta offshore a outra – a primeira atribuída a Cunha e a segunda em nome de Claudia Cruz e usada para pagar as despesas de cartão de crédito dela.

Essa transferência conectava os processos de Cunha e Cruz. Em primeira instância, o Ministério Público Federal de Curitiba pediu que, entre outras condenações, eles fossem sentenciados por lavagem de dinheiro por essa transferência.

Moro, no entanto, absolveu Cunha da lavagem dessa quantia sob a justificativa de que o dinheiro não se originava do caso apontado na denúncia: pagamento de propina referente a contratos com a Petrobras para explorar campos de petróleo em Benim, na África. Posteriormente, o juiz também absolveu Claudia Cruz de todas as acusações.

“É até possível que [esses recursos] tenham alguma origem ilícita, já que o acusado não logrou esclarecer a origem de seus recursos no exterior, mas compõem a denúncia somente os valores recebidos pelo acusado provenientes da comissão no contrato de aquisição pela Petrobras do Bloco 4 de exploração de óleo e gás em Benim”, disse o magistrado.

Na manifestação de segunda instância sobre Cunha, a Procuradoria afirma que deve “ser mantido o entendimento do sentenciante, porquanto representa o melhor entendimento sobre os fatos submetidos ao contraditório e à ampla defesa”.

Já no processo de Claudia Cruz, o órgão diz que para a condenação por lavagem é necessário “um conjunto de provas mais consistente quanto à ocorrência do crime”. O advogado de Eduardo Cunha, Pedro Ivo Velloso, disse que a acusação de lavagem dos US$ 165 mil é “absurda”.

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