Os grupos políticos fechados costumam compartilhar, entre os seus membros, práticas políticas, costumes, linguagem, o estilo de vestir. Cultivam uma estética própria, e tudo o que possa lhes dar uma sensação maior de pertencimento.
Em si não há nenhum mal nisso. Mas passa a ter quando esses grupos se radicalizam, quando se tornam os donos da verdade, quando se mostram dispostos até a calar as vozes dissonantes. Quando, enfim, se transformam em grupos pré-totalitários, cuja marca, das mais perniciosas, é enxergar os oponentes políticos (inclusive os internos, do próprio partido) como inimigos, e não como adversários.
O que muda desde logo é a linguagem. Quando os ativistas políticos se acham cheios de razão , eles capricham não apenas para expor as ideias, como para expressá-las da mesma forma e com as mesmas palavras, com os mesmos gestos largos, e o mesmo (e estridente) tom de voz. Trazem na a cabeça um chip ideológico, que tem a resposta pronta para todas as questões que podem se apresentar.
Em Santa Catarina os bolsonaristas estão pintados para a guerra. Não há estado mais representativo do bolsonarismo. É lá que se concentram com os respectivos brilharecos gente como Caroline de Toni, Júlia Zanatta, Ana Campagnolo, Zé Trovão, senadores Esperidião Amin e Jorge Seif, o governador Jorginho Melo.
O tiroteio é cerrado entre os personagens. Não há condescendência, respeito mútuo, polidez. O embate se dá assim, aos berros, recheado de baixarias, porque eles não sabem combater de outra forma. O tema central da desavença é a candidatura ao senado de Carlos Bolsonaro, determinada pelo pai, Jair Messias.
Ocorre que Carluxo é vereador no Rio de Janeiro e nunca fez política em SC. Os Bolsonaros consideram Santa Catarina o seu quintal, onde moram os servos fracos de caráter e identidade, a quem os líderes como os citados, os “mitos”, fazem o favor de indicar o caminho.
Se Carlos Bolsonaro for eleito, teremos dois senadores cariocas, já que essa figura caricata que é o senador Jorge Seif também nasceu no Rio. A representação de SC se tornará uma espécie de filial do Rio de Janeiro. E cá para nós, o Rio não é exemplo para coisa nenhuma.
Xenofobia? Não. Até o PL de SC está dando uns resmungos pelo atrevimento de arrombar a porta e impor candidaturas ao estado.
Foi o quanto bastou para que o assunto descambasse para escaramuças partidárias de baixa extração entre os bolsonaristas, com alguma oposição que se formou contra a injunção descabida.
O governador Jorginho Mello, sabujo como costuma ser, está engajado na pretensão dos Bolsonaros, e apoia a intrusão no estado em que ele, como líder, inclusive do seu partido, não deveria permitir. Mas por aqui, todo mundo acha que é afilhado de Jair Messias, acha que deve os mandatos a Bolsonaro – e aqui é preciso dizer : devem mesmo.
O fato é que a brigaçada é grande entre os bolsonaristas, no velho e mau estilo que os (des)qualifica: xingamentos, ofensas, tais como, “babaca”, “traíra”, “traidor”, “oportunista”, “ingrata”, “desqualificado”, e vai por aí, sabe-se lá o que mais corre nos bastidores.
(titoguarniere@terra.com.br)
