A chuva apertava em Brasília, por volta das 21h de quarta-feira (10), enquanto autoridades buscavam abrigo numa das tendas montadas na área externa da mansão do deputado federal Marcos Pereira, no Lago Sul, para sua festa de aniversário. Lá, ministros do governo e do Judiciário, parlamentares, advogados, lobistas e assessores faziam fila para cumprimentar o anfitrião. Presidente do Republicanos e postulante ao comando da Câmara dos Deputados, o parlamentar decidiu transformar a efeméride numa demonstração de força.
A sucessão de Arthur Lira na presidência da Casa acontecerá só no ano que vem, mas a corrida para ver quem irá se viabilizar já está aberta.
Rivais de Pereira na disputa, no entanto, não se furtaram a comparecer. Líder do União Brasil, o deputado Elmar Nascimento chegou cedo e ficou até quase o fim da festa. Antônio Brito, líder do PSD, e Isnaldo Bulhões, do MDB, também estiveram por lá. São eles hoje os principais postulantes ao posto.
A disputa pelo cargo de Lira rivalizou nas rodas de conversa com a decisão da Câmara de manter a prisão de Chiquinho Brazão, acusado de ser um dos mandantes do assassinato de Marielle Franco. O placar da votação foi, inclusive, tema abordado logo de cara por Lira ao cumprimentar Pereira. Os dois também acertaram um encontro, a sós, na próxima semana.
O vinho que circulava e o clima de comemoração não impediram uma ou outra saia-justa. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por exemplo, foi cobrado por integrantes da bancada evangélica enquanto conversava numa das muitas rodas formadas na suntuosa casa do empresário Oswaldo Oliveira, que emprestou o lugar para o evento. Cezinha Madureira (PSD-SP), uma das lideranças da bancada da bíblia, fez questão de mostrar que o grupo não está nada feliz com a interlocução com a Fazenda, que tenta segurar a expansão de benefícios fiscais para as igrejas.
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, não quis dar sorte ao azar e fez um pouso calculado: chegou, deu parabéns a Pereira e, antes que pudesse se ver diante de qualquer assunto mais inconveniente, dirigiu-se à saída. Como ele e Haddad, outros nove ministros estiveram no evento. Alguns seguiram o roteiro mais “cirúrgico” de Lewandowski, como Jorge Messias (AGU) e Luiz Marinho (Trabalho e Emprego). Outros estavam mais à vontade, caso dos ministros do centrão, Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e André Fufuca (Esportes), e do chefe da articulação política de Lula, ministro Alexandre Padilha.
Padilha tratou de transmitir a Pereira um recado do próprio Lula: um abraço pelo aniversário e um aceno para uma reunião nos próximos dias. A presença de parte significativa do primeiro escalão petista não afugentou bolsonaristas. Ex-chefe da Abin e candidato à prefeitura do Rio, o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) parecia à vontade. Igualmente bem dispostos, estavam outros expoentes do bolsonarismo na Câmara, como o líder do PL, Altineu Côrtes, e o presidente da bancada do agro, Pedro Lupion (PP-RR).
Ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, circulava animado com uma taça de vinho à mão, demonstrando que, se não reconquistou o mandato como deputado, voltou certamente ao jogo de Brasília.
Na mesma festa, os ministros Gilmar Mendes e Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, e Renata Gil, do Conselho Nacional de Justiça, fizeram questão de posar ao lado de Pereira para fotos.
Apesar do público diverso e da bebida farta, a pista de dança foi para poucos “anônimos”. Por volta das duas da manhã, a banda até que insistia em clássicos da MPB, mas o público começou enfim a rarear. As informações são do jornal O Globo.
