O índice de popularidade do presidente francês, Emmanuel Macron, caiu fortemente em julho, com 54% da população satisfeita com seu trabalho, 10 pontos a menos que em junho, segundo uma pesquisa publicada pelo semanário Le Journal du Dimanche. Os três primeiros meses de Macron no poder não estiveram isentos de problemas, apesar da sua estreia midiática na cena internacional e da ampla maioria parlamentar que conquistou nas legislativas.
Esta semana, a oposição e a imprensa criticaram sua forma de administrar uma crise com o chefe do Estado-Maior francês, o general Pierre de Villiers, que renunciou na quarta-feira após reprovar os cortes previstos pelo Governo no orçamento da Defesa. O líder de 39 anos também apoiou, no mês passado, um controverso projeto de lei contra o terrorismo, que inclui medidas que preocupam os defensores das liberdades civis.
Segundo a pesquisa realizada pelo instituto francês Ifop, o número de pessoas satisfeitas com Macron diminuiu 10 pontos em relação ao 64% registrado em junho. O primeiro-ministro, Edouard Philippe, também registrou uma forte queda de popularidade no mesmo período, passando de 64% a 56% de cidadãos satisfeitos, uma redução de oito pontos. O Ifop fez a pesquisa com 1.947 pessoas maiores de idade, entre 17 e 22 de julho.
Perfil
Emmanuel Macron é o presidente mais jovem que a França já teve em qualquer um dos seus cinco períodos republicanos. Aos 39 anos de idade, o ex-candidato e agora presidente eleito teve uma ascensão meteórica: de 2014 para cá, foi Ministro de Economia de François Hollande, rompeu com os socialistas, fundou seu próprio partido político e lançou uma candidatura que muitos consideravam sem futuro. Agora, por fim, é o líder da sexta maior economia do mundo por pelo menos cinco anos.
Um liberal saído da esquerda
“Nem à esquerda nem à direita” foi o slogan que guiou Macron ao longo de toda a sua campanha. Os especialistas e a imprensa francesa o definem como um candidato de centro, que tenta conquistar votos dos dois lados. Durante toda a caminhada, isso significou a necessidade de equilibrar sua fala de modo a não perder espaço em nenhuma das pontas do espectro ideológico, o que gerou críticas de que Macron falava muito, mas não trazia nenhuma proposta concreta.
A ascensão meteórica de Macron começou logo após se graduar na prestigiosa Escola Nacional de Administração, em 2004: o novo presidente ingressou imediatamente no serviço público, dentro da Inspeção Geral de Finanças, órgão fiscalizador do Ministério da Economia. Em 2007, Macron passou a integrar a chamada “Comissão Attali”, órgão misto com membros do governo e da iniciativa privada, criado pelo então presidente Nicolas Sarkozy para acelerar o crescimento econômico do país. Mais do que a formação de Macron, foram os contatos construídos nessa comissão que o tornaram um nome valioso e atraíram o interesse do Banco Rothschild, que o contrataria no ano seguinte.
Nas reuniões da Comissão Attali, Macron se aproximou de alguns pesos-pesados da economia francesa que também se sentavam à mesa: representantes do setor bancário, de seguros e da energia nuclear. Também fez amizade com Peter Brabeck, CEO da Nestlé, o relacionamento mais importante para a concretização do grande negócio que Emmanuel Macron ajudou a intermediar no período em que geriu investimentos para o Rothschild: em 2012, quando a gigante do ramo farmacêutico Pfizer decidiu vender sua filial dedicada à nutrição infantil, a Nestlé procurou o banco de Macron graças às pontes construídas no passado. Após uma concorrência acirrada com a americana Maed Johnson e a francesa Danone, a Nestlé fechou negócio – alegadamente, por intervenção direta de Macron junto a Brabeck, convencendo-o a aumentar o lance – por cerca de 11,9 bilhões de dólares.
A negociação ajudou a fazer de Macron um milionário: ele declarou ter recebido, nos anos em que trabalhou para o Banco Rothschild, quase 3 milhões de euros brutos – quantia que seus críticos acusam ter sido maquiada para baixo para não desgastar sua imagem. Certo é que, pouco tempo depois de ajudar na compra da subsidiária da Pfizer, Macron fez o caminho inverso: saiu da iniciativa privada e, uma vez mais, assumiu um cargo no governo.
Sob François Hollande, de quem recebeu o poder nos próximos dias, Macron trabalhou primeiro como secretário-geral adjunto, sendo nomeado para encabeçar o Ministério de Economia em agosto de 2014 – sua capacidade de orbitar entre a esfera pública e a privada pesou novamente, e Hollande apostou no seu jovem protegido para flexibilizar as relações de trabalho sem desagradar demais as bases do Partido Socialista.
