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Reeleição de primeiro-ministro fortalece ideia da saída britânica da União Europeia

David Cameron encontrou-se no domingo com veterano da Segunda Guerra Mundial. (Foto: Jack Taylor/AFP)

Com cada vez mais imigrantes ilegais vivendo no Reino Unido, cresce o descontentamento da população e a imigração tornou-se, inevitavelmente, o principal problema do país para 36% dos britânicos. Por isso, foi um dos temas mais debatidos na campanha eleitoral vencida pelo primeiro-ministro conservador, David Cameron, na quinta-feira.

Diante dessa insatisfação do eleitorado britânico, o Partido Conservador, de Cameron, apresentou uma das propostas mais discutidas na campanha: um referendo sobre a saída do Reino Unido da UE (União Europeia).

Cameron reafirmou a promessa no discurso da vitória e pretende organizar a consulta até 2017. Caso o país decida sair do bloco continental, o fluxo de imigrantes, pelo menos em teoria, diminuirá. Seria a chamada “Brexit” – termo criado com a união de “Bretanha” e “exit” – “saída” em inglês.

É relativamente fácil entender as razões que levaram Cameron a oferecer essa solução. Estimativa do Escritório Nacional de Estatísticas (ONS, na sigla em inglês) diz que cerca de 2,4 milhões de estrangeiros ingressaram com a intenção de viver em solo britânico nos dez anos até 2013, quando entraram cerca de 209 mil pessoas.

Ao contrário de outras épocas, quando o fluxo vinha de longe, de países como Jamaica e Índia, o movimento recente tem origem próxima. Em 2013, o ONS estima que 183 mil cidadãos da UE tenham imigrado.
Assim, o bloco foi fonte de mais de 80% do fluxo. Atualmente, esse contingente tem portas abertas. A “Brexit”, porém, barraria boa parte dessa migração, que custa até 5 bilhões de libras esterlinas por ano aos cofres públicos, segundo estudo do Observatório de Migração da Universidade de Oxford.

As possibilidades de saída da UE, no entanto, causam calafrios em alguns setores diante de análises que preveem um impacto econômico negativo na economia britânica. Mas há estudos que dizem o contrário. Para tirar proveito da situação, Londres teria de adotar uma agenda própria, menos regulamentada que a seguida por Bruxelas, e olhar para muito além do outro lado do canal da Mancha, para os Estados Unidos ou para países emergentes, como Índia, Brasil, México, China e Rússia.

“Não sabemos quão significativa é a intenção da ‘Brexit’ de Cameron. Ele não deu detalhes sobre de que lado está. A maioria dos líderes empresariais quer continuar na UE e os próprios europeus nos querem”, declarou o analista da gestora de investimentos Schroders, em Londres, Rory Bateman.

Preocupação
Em 2014, o Reino Unido teve déficit comercial de 76 bilhões de libras esterlinas (aproximadamente 350 bilhões de reais) com os parceiros europeus. “Por outro lado, temos um superávit de 19 bilhões de libras (cerca de 88 bilhões de reais) no setor de serviços. Só espero que o debate leve em conta o impacto econômico.”

Mesmo sem ter a moeda europeia no bolso, operadores do mercado financeiro em Londres são responsáveis pelo maior volume de negócios com o euro em todo o mundo. O mesmo acontece com outros ativos europeus. Por isso, os principais bancos europeus estão especialmente preocupados com o tema. Em tom de quase ameaça, algumas autoridades ligadas ao Banco Central Europeu já reclamaram do tema e sugeriram migrar o gigantesco mercado de câmbio para Paris ou Frankfurt – cidades que usam o euro.

Mas, ao contrário dos discursos alarmistas ouvidos no mercado financeiro, o centro de estudos Open Europe defende que ainda não é possível ter certeza de qual seria o impacto de uma saída britânica da UE. “O resultado não é tão claro. O resultado final depende de uma série de decisões difíceis. Isso inclui saber se os britânicos estão dispostos a aceitar a desregulamentação da economia e a abertura do país ao livre comércio”, conclui um estudo do centro.

No pior cenário, o Open Europe entende que a desistência da UE poderia reduzir o tamanho da economia britânica em até 2,2% em 2030 – prejuízo de quase 40 bilhões de libras esterlinas.

O estudo, no entanto, também mostra que o desdobramento pode ser positivo e o melhor cenário prevê britânicos 1,6% mais ricos em 2030. A melhora seria em razão dos menores gastos com a burocracia europeia – como regras ambientais e regulamentação da economia – e o aumento das exportações.

Nova fase
Curiosamente, esse cenário envolve um acordo de livre comércio com a UE. Ou seja, o Reino Unido passaria a ser somente parceiro comercial do bloco continental, sem firmar contratos multilaterais em matéria de imigração ou legislação comum. (Fernando Nakagawa/AE)

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