Na vida a dois, o famoso “dar um tempo” muitas vezes surge como um recurso neutro para lidar com crises ou conflitos. No entanto, especialistas alertam: essa pausa pode ser, em muitos casos, apenas uma maneira de adiar o término — especialmente quando falta coragem para encerrar a relação de forma clara.
Conforme a psicóloga Rosana Tamyres Ferreira, no blog do Psicólogo e Terapia, quando sugerido apenas por uma das partes, o afastamento pode soar como uma preparação para o fim: “há, ainda, a situação em que a pessoa não tem coragem de terminar, por isso, tenta se afastar gradualmente do cônjuge em vez de ter uma conversa sincera com ele”. Sem diálogo claro, o tempo deixa de ser uma oportunidade de reconexão e vira terreno fértil para a ambiguidade emocional.
Além disso, a pausa pode até trazer clareza — mas somente se existir comprometimento mútuo e regras definidas. A ausência de limites, explica ainda Rosana, tende a gerar insegurança e afastamento emocional. Ou seja: sem comunicação franca, a experiência pode se transformar em uma dor silenciosa, pior que uma separação direta.
Por outro lado, alguns especialistas alertam que a pressa em iniciar um novo relacionamento sem esse tempo de reflexão também se revela prejudicial. Segundo eles, tratar uma nova relação como fuga emocional pode criar um “acúmulo de mágoas”, à medida que emoções não resolvidas vão se somando e contaminando as próximas vivências amorosas. Em vez de avançar, acaba-se reincidindo em padrões que não foram devidamente analisados.
Então, para que um “tempo” realmente cumpra sua função — seja facilitar uma reconexão mais madura, seja permitir um término respeitoso —, é essencial que o casal estabeleça acordos claros: definir duração da pausa, limites de contato, expectativas e o que se pretende alcançar com esse espaço emocional.
Psicólogos afirmam que a franqueza costuma ser mais respeitosa e eficaz. Enfrentar o término com transparência permite que cada um conduza seu processo de luto e recomeço com mais autoconhecimento e autonomia. Pedir um tempo sem clareza costuma revelar que a decisão já foi tomada — só falta coragem para expressá-la.
No fim, a coragem de encerrar um ciclo — e não prolongar incertezas — é também um ato de responsabilidade afetiva. E, paradoxalmente, pode ser o passo mais saudável para que ambos encontrem, enfim, o ‟tempo” necessário para recomeçar.